terça-feira, 15 de junho de 2010

Capítulo 20 -Final.

- Sabe, hoje e amanhã são os últimos dias do prazo. James ficará preocupado – Alice disse, folheando uma revista. Ela estava esperando que Lily começasse a patrulha pelos corredores, então ela fugiria para ver Frank, enquanto a amiga fingia não saber.

- Deixe-o se preocupar. Isso não é uma boa ideia?

Alice olhou por cima da revista.

- Não é uma boa ideia? Lily, o garoto está apaixonado por você, você está apaixonada por ele. Como ele perder a aposta e nunca mais voltar a falar com você é uma boa ideia?

- Eu nunca disse que estava apaixonada por ele – Lily justificou-se, fazendo uma careta para as palavras de Alice. Não era como se eles tivessem um acordo inquebrável ou qualquer coisa, ela ainda poderia falar com ele. E ele não iria ignorá-la. Ela esperava que não.

- Você não precisa fazer isso. É obvio – declarou Alice, voltando a sua revista.

- Não é tão óbvio como você e Frank - Lily disse, esperando desviar a atenção de Alice. Funcionou.

- Você não tem que ir fazer as rondas?

Lily sorriu.

- Espere alguns minutos antes de escapar. Não quero que pareça que estou deixando vocês fazerem isso.

- Eu? Escapar? Lily, magoa você pensar dessa maneira.

Lily rolou os olhos, saindo do salão comunal. Ela foi capaz de evitar o tema "James", mas não seria capaz de ignorá-lo em carne e osso. Não importava. O que aconteceu, aconteceu. Ganhando ou perdendo, ela continuaria vivendo. Era não saber o fim daquela situação que a estava matando.

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- Lily, saiba que eu vi Alice indo em direção ao campo de Quadribol - James disse tão logo Lily se encontrou com ele para a ronda.

- Então esse é o lugar onde ela está indo. Finja que não a viu - Lily ordenou.

- Eu pensei que você duas eram parceiras no crime.

- Ela e Frank são parceiros esta noite, e nós nunca fomos parceiros no crime, nós não quebramos muitas regras...

James riu pela expressão preocupada no rosto de Lily. Ela pareceu genuinamente preocupada por quebrar as regras. Então deu de ombros.

- Eu tenho esta nova teoria sobre as regras – afirmou Lily.

- Isso deve ser interessante.

- Não se deve colocar muita fé nelas. Se alguém depende muito de regras para se orientar, quando chegar o momento em que elas não existem, não saberá o que fazer. Viver pelas regras apenas por elas existirem deixa você sem saber o que fazer quando não há nada nem ninguém para te dizer quais elas são. Todos deveriam fazer o que sabem que é certo. Às vezes, isso significa quebrar um pouco as regras.

James tinha a sensação de que as regras da escola não eram as únicas a que ela se referia. Estava mais próxima sobre as da aposta.

- E esta teoria se aplica a todas as regras?

- Na maioria - ela respondeu, olhando para ele. Parando de andar, Lily olhou fixamente para fora, através de uma janela. - Há uma guerra vindo. Tanto quanto eu não quero enfrentá-la. E que boas regras haverá lá fora?

James se perguntou se ele estava errado sobre ela referir-se à aposta anteriormente. Talvez esse fora o real significado. Mas ele achava que não. Foi mais uma exposição de seus medos.

- Nós já sabemos que haverá uma guerra. É apenas uma questão de quando será reconhecida - James respondeu. Pareceu rude, mas ele não ia negar. Isso não ajudaria ninguém. Negação nunca ajudou. Era algo que Lily precisava aprender.

Lily virou a cabeça para encará-lo, os olhos fixos.

- Sabe, se houver uma guerra, vou lutar.

James manteve o olhar. Suspeitava que ela diria isso.

- Eu sei. Lutarei também.

Lily voltou seu olhar para fora da janela

- Pelo quê você tem que lutar? Você é um puro sangue, de qualquer forma você venceu.

- Luto por você.

Lily virou-se para ele abruptamente. Por ela? Amá-la era uma coisa, lutar em uma guerra era outra. Ele poderia morrer.

- Eu nunca poderia pedir para você fazer isso.

- Eu sei. É isso que faz valer a pena. Não apenas por você, por pessoas como você. Por cada nascido trouxa lá fora, por cada traidor do sangue, por cada pessoa diferente. Por você, e eu, Sirius e Remus. Você acha que eu estaria seguro, sendo um traidor? Ou Sirius? E Remus, quando seu segredo for descoberto?

- Não, eu suponho que não. Mas... Vamos falar de outra coisa, algo mais alegre.

James observava sua posição, olhando pela janela afora, os olhos realmente não vendo. Era como se ela estivesse perdida em pensamentos. Pensando em coisas que ele não seria capaz de descobrir.

- Sobre o que Peter estava falando mais cedo? - ela perguntou subitamente.

- Ah, isso. Apenas uma piada, sobre alguém que merecia.

- Alguém que merecia?

- Um slytherin idiota que tentou começar uma luta com o Peter - James explicou.

- Nada de mal, eu espero.

- Só um pouco de poção do amor, fazendo-o dizer que amava Filch. Já deve estar passando o efeito, eu acho.

Lily considerou que o garoto seria ridicularizado, mas também pensou que não. Realmente não magoaria ninguém, e era do tipo engraçado.

- Lily, você sabe que tem apenas dois dias para terminar este semestre.

- Eu sei - ela respondeu, cuidando para não olhar para ele.

- Então isso significa que a aposta está praticamente terminada – acrescentou James.

- Eu sei.

- Pensou em algo?

Lily deu de ombros, tentando parecer indiferente.

- Talvez um pouco.

- E nesse pouco que você pensou, o que você decidiu?

- Que toda esta ideia de aposta não foi uma coisa muito inteligente - ela respondeu, ainda tentando evitar olhar para ele.

James suspirou. Ele tinha pensado que isso poderia acontecer.

- Lily, se você pensa que pode ganhar esta aposta e manter as coisas do mesmo jeito, está enganada. É ganhar ou perder. Não vou forçá-la a fazer nada, cabe apenas a você. Mas se eu perder, cumprirei o acordo. Não falarei com você. Eu não poderia, depois de ter chegado perto, perder você. Portanto, ou nós estamos juntos, ou não. Não quero nada pendente entre nós depois disso. Você tem que decidir.

Lily ficou boquiaberta. Ela não podia acreditar. James, que tinha sido tão paciente, tão ansioso, tão apaixonado, estava dizendo a ela que era tudo ou nada. Nem em um milhão de anos ela esperaria por isso. Ela tinha pensado que ele estaria à espera independentemente do que ela decidisse. Ela estava errada.

Tinha sido cruel pensar que ela poderia fazê-lo esperar, que ela poderia levar todo o tempo do mundo, independentemente do sofrimento dele. E para quê? Para ter mais algumas semanas para pensar sobre isso?

Ainda assim, que direito ele tinha para lhe dar um ultimato?

- Não posso acreditar que você disse isso. Depois de todo esse tempo, eu não acho que você poderia manter a aposta. Você está me perseguindo há anos. Eu não acho que você possa parar de falar comigo - ela disse olhando-o com raiva. Ela tinha que estar certa. Era injusto de outra forma. Além disso, tudo é justo no amor e na guerra, embora ela não soubesse como eles estavam, já que tudo parecia mudar diariamente.

- E você diz que eu sou arrogante?

De todas as coisas que ele poderia ter dito, Lily não estava esperando que fosse isso. Afinal, ele foi o único que insistira com ela. E de repente, ele decidiu dizer isso? Eles tinham suas discussões, algumas chamando muito a atenção nos anos anteriores, mas não dessa vez. Ele não deveria estar fazendo-a confiar nele como sempre fizera?

Uma coisa era certa: que Lily não estava gostando dessa cadeia de acontecimentos. E ela não estava apta a tolerar isso.

- Se isso é realmente o que você pensa sobre mim, então estou indo embora – ela falou, girando e saindo dali.

Ela esperou que James a seguisse para agarrá-la, ou ao menos que a chamasse. Ele não o fez. Depois de aproximadamente dez passos, Lily girou para encará-lo.

- Você não vai tentar me parar?

Ele inclinou-se para trás, contra a parede, casualmente.

- Não.

Lily estava atordoada. Em que tipo de mundo ele a deixaria ir?

- Bem, se é assim que você quer - ela disse, voltando a andar.

Lily disse a si mesma que não se importava. Era melhor assim. Estava indo para longe dele, o que significava que não falaria mais com James, e ele poderia culpar a si mesmo. E, melhor ainda, ela poderia culpá-lo. Então, por que as lágrimas estavam enchendo seus olhos?

Seus passos tornaram-se mais rápidos, até que começou a correr a toda velocidade que podia, perdendo as forças ao se apoiar em uma parede. Não podia ouvir seus próprios pensamentos, apenas as batidas de seu coração ou a respiração ofegante. Tudo o que ela conseguia ver era sua sombra, os flocos de neve caindo suavemente do outro lado da janela que ela estava olhando.

Lily ofegou, deixando sair um grito animado. Não havia nevado o ano inteiro e aquela era a primeira neve, e parecia que ela estaria muito boa.

James a ouviu gritando e aproximou-se dela o mais rápido possível. Ele queria ir atrás de Lily, mas sabia que não poderia. Tinha que mostrar que ele falara sério. Ele a amava, mas havia uma diferença entre estar apaixonado e ser um capacho.

- Lily, o que aconteceu? Ouvi você gritar.

Lily o encarou com um grande sorriso no rosto, sua raiva momentaneamente esquecida.

- James, olhe, está nevando!

- Está – ele falou, olhando pela janela. – Deveríamos ir lá para fora.

- Vamos - Lily disse, praticamente saltando em direção à saída.

James a seguiu, tendo certeza de não falar muito para não fazê-la se lembrar de que estava chateada com ele.

Até ao momento em que chegou lá fora, a neve caía grossa, tornando quase impossível de enxergar. Se continuasse assim a noite toda, haveria muita neve para jogar no dia seguinte.

- Lily, eu acho que deveríamos entrar, está nevando muito.

Lily o ignorou, girando o corpo. Ela gostava de neve. Adorava a neve. Tinha distraído-a de todos os pensamentos. Lembrava-a de quando era criança, ela e sua irmã corriam para fora, colocaram a língua para fora, sentindo a neve, fazendo anjos, dançando. Lembrou-se de seus tempos felizes.

James a assistiu girar, aguardando o momento em que ela cairia. A neve acentuava o contraste com seu cabelo vermelho; os flocos caindo, faziam-na parecer um anjo. Se a neve não fosse tão espessa, deixando difícil ver, ele ficaria todo o tempo observando-a, mais uma vez, como ela era linda. Mas, na situação atual, tudo o que foi possível observar era que seu giro na neve foi o ato mais despreocupado que ele já vira dela.

- Lily, é você?

Lily parou de girar, desequilibrando-se. James, apressadamente, correu até ela e a segurou, apanhando-a antes que pudesse bater no chão. Lily virou a cabeça dela na direção da voz.

- Alice, é você?

- Somos nós – outra voz respondeu.

- Frank? Venham aqui, estou com o James - chamou Lily.

Dizer o nome dele a fez perceber o quão perto eles estavam, a proximidade fazendo-a sentir novamente tudo o que ela sentira pelo que ele tinha dito. Ela olhou para ele solenemente, sentindo como se o seu coração fosse quebrar. Lágrimas encheram os olhos dela novamente, mas não podia deixar que ele a visse chorar, ela não podia.

James nunca quis tanto apagar o que dissera. Lily estava à beira das lágrimas e era tudo culpa dele. Ele estava com a razão, sabia disso, mas vê-la magoada dava-lhe um aperto no coração.

- Lily... - ele começou inseguro sobre o que dizer, só sabendo que tinha de dizer algo, algo para quebrar o silêncio antes que o silêncio os quebrasse.

- Não – ela disse abruptamente. O que havia para dizer? As coisas eram como tinham que ser. Ele tinha colocado dessa forma.

Uma única lágrima caiu por sua bochecha enquanto ela dizia isso, apesar do seu esforço. James a secou, querendo beijá-la como nunca quis antes. Beijá-la até que ela estivesse sorrindo novamente, beijá-la independentemente do que dissera, porque ele nunca poderia ter a oportunidade de fazê-lo novamente, e se ele fizesse, ganharia a aposta, o que significaria tê-la para si, mesmo não sendo justo e ele dizendo que ela poderia decidir, pois James faria qualquer coisa apenas para ficar com Lily. Qualquer coisa.

Ele estava pronto para beijá-la, puxando-a mais perto, quando uma voz chamou o nome de Lily, ao que ela afastou.

Alice derrapou perto deles, deslizamento e caindo. James segurou-a em torno do que pensou ser a cintura dela e a ergueu novamente.

- Obrigada, corri na frente de Frank. Está difícil de ver por aqui, sabe.

- Aí estão vocês - Frank disse, quase caindo.

Lily olhou para Alice e Frank, então olhou para James.

- Podemos ir? – ela perguntou, olhando para Alice e Frank de forma implorativa.

- Hum, está bem – Alice respondeu.

Frank olhou para ela e James de uma forma que o deixou nervoso, Frank estava protegendo Lily.

Lily pegou nos braços de Alice e Frank e saiu; ela entre os dois. James não a viu ir embora, tomou seu próprio caminho. Lily indo embora era algo que ele tinha visto o suficiente em sua vida.

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Eles haviam caminhado direto para o quarto de Frank; os colegas de quarto dele pararam de falar assim que os três entraram. Frank olhou para Lily e voltou para seus colegas:

- Saiam.

Os meninos não argumentaram, indo direto para o salão comunal.

- O que há de errado? – perguntou Alice enquanto Frank guiava Lily até a cama a fim da amiga sentar-se de frente para os dois.

- James – ela falou, deitada, o rosto escondido no travesseiro.

- O que ele fez? - Frank perguntou.

- Ele, nós, eu... ele. - Lily parou de falar, visto que ela não estava fazendo sentido.

- O que ele fez? - Alice repetiu.

- Foi o que ele disse - Lily respondeu, deixando as lágrimas caírem por seu rosto.

- Lily – Alice alarmou-se, Frank sentou-se ao lado da amiga. – Diga- nos o que aconteceu – pediu, preocupada.

- Não quero falar sobre isso. Nunca mais quero mencioná-lo novamente – Lily falou chorosa, pulando da cama e para o dormitório das garotas.

Alice olhou para Frank, dizendo que ela iria lidar com isso e depois correu até Lily. Quando ela chegou ao quarto, Lily estava em sua cama, soluçando em seu travesseiro. Alice sabia que era melhor deixar a amiga chorar em seu ombro do que ficar perguntando o que acontecera.

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James não esperava ver Lily, sua esperança tinha se resignado, e foi vagando sem rumo pelos corredores. Ficou claro para ele que Lily estava indo embora para deixá-lo perder a aposta, e ao fazê-lo, ele iria perdê-la para sempre.

Essa situação não era algo que ele gostaria de dividir com seus amigos. Eles ajudariam e entenderiam, mas ele preferia aguentar sozinho.

Isso foi antes de ele ver Frank.

Frank tinha visto Alice naquela manhã, a qual dissera que Lily tinha chorado até a dormir. E James fora o motivo.

- O que você disse a ela? – Frank exigiu.

James, que não tinham sequer notado Frank, respondeu:

- O quê?

- Lily. O que disse a ela? Ela chorou a noite toda por algo que você fez. Então me diga o que foi.

Frank parecia pronto para brigar. Algo que incomodou James, porque ele tinha certeza de que brigar com o melhor amigo de Lily não seria algo que teria um retorno agradável.

- Eu não fiz nada. Tudo que fiz foi dizer a ela que estou aderindo a aposta. Significa que, caso ela ganhe, não falarei com ela nunca mais.

Frank deu um passo para trás.

- Isso é tudo?

- Com certeza. E eu posso ter sugerido que ela era presunçosa. Mas não acho que isso a faria chorar. Ela está bem? – James perguntou.

- Eu não sei se ela está bem. Provavelmente mais brava com ela mesma do que com você, se pensar bem - Frank respondeu.

James e ele começaram a caminhar lado a lado.

- Alice vai me matar?

- Acho que não. Por quê? - Frank perguntou, preocupado.

- Ela me ameaçou uma vez que, caso eu machucasse Lily, ela me mataria.

- Vou ver o que posso fazer para te poupar.

Eles voltaram a caminhar normalmente, James querendo pedir mais informações sobre Lily, mas não sentindo que pudesse. Ele estava sem esperança. E totalmente sem sorte. Isso era tão Lily.

- Você sabe que a sua aposta termina amanhã? - falou Frank.

- Eu sei.

- Então por que você está aqui? - Frank perguntou, óbvio.

- Porque esta é a maneira que Lily quer.

- Ela chorou durante toda a noite por pensar que nunca mais falaria com você. Acha que esse é o comportamento de alguém que quer isso? – disse Frank.

James olhou para a ele. Ele era o melhor amigo da Lily. Ele iria saber.

- Então, eu tenho uma chance? - perguntou.

- Você pode ter uma chance. Fale com ela.

- Eu nunca quis fazê-la chorar – James disse, não sabendo por que sentira essa necessidade.

- Eu sei. Se você quisesse, acha que estaria parado aqui? Posso não ganhar, mas eu conseguiria te acertar algumas vezes.

- Vale a pena saber que alguém a ama como eu.

- Apenas agradeça por Alice não o encontrar primeiro.

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James havia retornado ao seu quarto a fim de obter o seu mapa e encontrar Lily com ele. Isso acabou sendo mais difícil do que ele esperava, considerando que não estava lá.

- Onde ele está? - falou pela terceira vez.

- Eu já te disse, Sirius e Peter os pegaram - Remus respondeu, irritado.

- Por quê?

- Não perguntei. Quanto menos eu sei, menos posso ser incriminado.

James olhou seu amigo com frustração.

- Preciso desse mapa. Eu a procurei por toda parte e não consegui encontrá-la.

- Então você não procurou por toda parte.

James estava pronto para atirar algo em Remus quando a porta abriu e Sirius e Peter entraram.

- Onde vocês estavam? – James perguntou irritado, arrancando o mapa da mão de Sirius.

- Fomos dar uma volta por aí - Peter respondeu, olhando James estranhamente.

- Estávamos indo te convidar, mas você tinha desaparecido. Moony não iria sem você - Sirius acrescentou.

- Eu preciso encontrar Lily - James disse, seu olhos varrendo o mapa.

- Claro, sua aposta termina amanhã – falou Sirius.

- Eu sei – James retorquiu tensamente.

- Você deve se apressar. Não sei como você demorou todo esse tempo. Dez não é uma conta realmente alta – Sirius falou.

James lançou um olhar feio para Sirius.

- Considerando que ela é Lily Evans, talvez ela seja alta.

- Maior do que você pode contar - James murmurou sob sua respiração.

- O quê?

- Nada. Aqui, pegue o mapa de volta - James disse, enfiando o mapa nas mãos de Sirius e saindo apressado em direção à porta.

- Onde ela está? - Peter perguntou.

- No quarto – James respondeu.

- Mesmo odiando ser o estraga prazer, você não pode entrar no dormitórios das garotas - Remus disse.

- Oh, certo - James disse, virando seu olhar para Sirius.

- Você quer que eu volte para lá? Sabe, da última vez que fiz isso por você, você me fez pedir desculpas para ela, então-

- Então você é meu melhor amigo e deseja que eu conquiste a garota que eu amo - James o cortou.

- Certo. E se eu não conseguir "convencê-la"?

- Jogue-a em seu ombro e a traga até aqui, tenho só dois dias – James falou em pânico.

- Certo. Tchau - Sirius disse, caminhando para fora da porta.

Remus olhou para cima.

- Você realmente acha que é inteligente-

James sabia o que ele queria dizer, então correu para a porta.

- Sirius, não a jogue literalmente sobre seu ombro!

- Acha que eu sou louco? – retorquiu o outro.

James fechou a porta, sem responder. Ele realmente tinha que ver Lily.

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Lily estava deitada em sua cama, comendo sapos de chocolate, quando ouviu passos.

- Roubei seus sapos, Alice.

- Não é Alice.

Lily estava tão surpreendido ao ouvir uma voz masculina que ela pulou, caindo da cama.

- Ai.

Ela se levantou, mas deixou-se cair de volta para pegar o saco de sapos de chocolate abruptamente das mãos de Sirius.

- São meus, deixe-os em paz.

- Achei que fossem de Alice.

- Eles estavam debaixo da minha cama, que os torna meu por meio de regras de proximidade – Lily disse, sentindo-se esperta e segurando o saco para ele.

Ele puxou-o de volta.

- Acho que eles precisam mais de mim.

- Vá embora.

- Isso não é muito educado – Sirius disse, sentado ao pé da sua cama.

- James o enviou. A rudeza é dirigida a ele – Lily explicou.

- Ele quer vê-la.

- Nós não podemos obter sempre o que queremos.

- Lily, você pode argumentar comigo durante todo o dia, ou você pode se levantar, escovar o cabelo e argumentar com James.

- Escovar o meu cabelo? – ela perguntou, irritada. Ela estava no seu próprio quarto, se ela queria deixar o cabelo bagunçado como um grande rolo, ela podia.

- Eles estão com um aspecto semelhante à lula gigante. Dá impressão de que se eu os tocar, eles vão se mover - Sirius disse, olhando-a como se fosse testar sua teoria.

- Toque meu cabelo e eu te mato – Lily falou rispidamente. Mas passou as mãos pelos cabelos, arrumando-os.

- Você tem que vir comigo.

- Se está planejando arrastar-me desta vez, eu quero que você saiba que tenho a minha varinha e pretendo usá-la.

- Te arrastar? Eu poderia, mas depois de todos aqueles sapos de chocolate pode ser difícil.

- Ei! – Lily falou, sentando-se.

- Eu consegui fazê-la se sentar, agora o que falta é convencê-la a se levantar e andar.

Lily se deitou novamente.

- Não vou. Meu cabelo está ruim, eu estou vestindo roupas de ontem, estou horrível, eu me sinto horrível, e é inútil.

- Eu não diria horrível. Ruim, mas não horrível. E ele não vai se importar – Sirius falou, de pé, segurando a mão de Lily a fim de erguê-la.

Lily bateu na mão dele. Fechou os olhos, esperando que, quando os abrisse, Sirius teria ido embora. Ela sentiu a cama afundar ao seu lado e abriu os olhos, vendo que ele tinha sentado com as pernas esticadas.

- Não acho que James apreciaria o seu não.

- Não acho que James apreciaria o melhor amigo dele na cama comigo – ela retorquiu, considerando empurrá-lo, mas lembrando que ele era mais forte.

- Não na cama, ao lado de você em uma cama. Completamente diferente.

- Eu realmente não gosto disso.

- Tanto quanto James ou eu. Você pode ir falar com ele, ou pode ficar aqui comigo.

Lily soltou um lamento.

- Tudo bem, eu vou vê-lo. Mas tenho que me ajeitar primeiro.

- Sabia que você viria.

- Será que ele quer que eu segure sua mão ou algo assim? – Lily perguntou.

- Eu não acredito que você não vá aparecer.

- Eu tenho que me arrumar. Isso significa que você tem que sair. A menos que você queira me ver em roupas íntimas – ela disse mordaz.

- Como isso soa tão tentador, eu acho que vou embora. Ele vai encontrá-lo no salão comunal.

Lily bateu a porta atrás dele, receando ver James.

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Alguns minutos mais tarde, Lily entrou no salão comunal, James levantou-se da poltrona tão logo ela entrou.

- Oi, Lily. Sirius disse que você viria falar comigo. Eu tinha medo que você não viesse.

- Ele me convenceu.

- Como? – James perguntou curiosamente.

- Ele ficou na cama comigo.

- O quê?

- Ao meu lado na cama. Completamente diferente, aparentemente.

- Eu sinto inveja, eu nunca estive em qualquer lugar perto de sua cama – James brincou.

- E você provavelmente nunca estará – Lily respondeu, aborrecida.

- Certo, acho que não é hora de fazer piadas.

- Tivemos nossos momentos.

Os dois não disseram outra coisa, Lily seguindo James em silêncio. Eles atingiram uma área calma perto do lago, o local era o que Lily escolhera de romântico para Alice e Frank. Não era a melhor vista no momento, já que na primavera, com as flores que crescem sobre as árvores e arbustos que o rodeiam, seria mais romântico.

- Espere um pouco, vou buscar alguma coisa para nos sentar - James disse, olhando para a neve. Ele fez um feitiço convocatório e um grosso tapete apareceu. Então gesticulou para Lily se sentar. - Não vou pedir desculpas pelo que disse. Eu quis dizer aquilo. Mas não queria magoá-la quando falei. Se eu estava triste, acho que poderia ter falado isso com um pouco mais de tato.

Lily não queria olhar para ele. Não foi um pedido de desculpas. Mas, ela tinha achado que não se importava. Ele queria ter dito aquilo. Ela teria dito a mesma coisa na sua situação. Foi por isso que ela não queria vê-lo, ela sabia que ele ia soltar suas defesas. Se ele fosse embora, ela poderia manter-se segura, se ele estava perto, então ela estava perdendo.

- O que te faz pensar que você me magoou?

- Eu vi Frank mais cedo. Ele estava pronto para me matar. Eu não acho que ele faria isso, se eu não te magoasse.

Lily suspirou. Qual era o objetivo?

- Eu não estou mais com raiva. O que você disse é compreensível.

James hesitou, parando o fluxo de palavras que ele estava prestes a dizer. Era melhor.

- Trouxe o seu presente. Caso eu não te veja novamente.

Lily pegou o pequeno pacote que ele segurava, desembrulhando-o e tirando uma caixa que continha uma corrente de ouro cujo pingente era um coração. Era bonito e parecia caro. E combinava perfeitamente com ela.

- Eu vi você olhando para ele um dia e eu pensei em buscá-lo, já que eu sabia que você ia gostar. Eu posso dar outra coisa se você não-

- Não, eu adorei – ela disse, tentando colocá-lo. – Não consigo abrir o fecho.

- Deixe comigo – James disse, inclinando-se e aproximando-se dela. Ele ficou muito perto, passando suas mãos pelo pescoço de Lily, deixando-as roçar levemente. Ela ofegou, parando de respirar.

James olhou para baixo, seu olhar nos lábios dela. Lily o olhou de volta, seguindo o seu olhar, sentindo que deveria dizer algo, mas sentindo-se incapaz. Era tão difícil pensar quando ele estava tão perto. Ela não podia evitar, olhando para os lábios dele, lembrar-se da sensação de como era ser beijada por ele, como ela se sentia quando ele a abraçava...

Inconscientemente, Lily fechou os olhos, ficando um pouco mais perto. James moveu-se para mais perto dela, seus lábios quase se encostando.

- Lily, é a sua vez. É agora ou nunca.

Lily não sabia o que dizer, por isso ficou quieta. James tomou isso como resposta, diminuindo a distância entre eles, quando Lily deu o menor e mais leve movimento para se afastar.

Não foi algo que teria parado outra pessoa, nem sequer o suficiente para alguém perceber, mas James parou, e ele se afastou, levantando-se.

- James, eu-

- Não diga nada, Lily. Se eu não tenho sido capaz de convencê-la depois deste tempo todo, eu nunca vou conseguir. Talvez eu estivesse errado. Talvez não somos destinados a ficar juntos.

Com isso, ele virou e foi embora. Lily queria chamá-lo, queria desesperadamente que ele voltasse, queria levantar e segui-lo, mas não podia. Ela estava enraizada naquele chão, a língua presa em sua boca.

Por que ela não poderia ir atrás dele? Por que ela não gritara? Ela só o assistiu ir embora, um buraco vazio, uma sensação de naufrágio dentro dela. Como sempre, tudo estava errado e, como sempre, fora culpa dela.

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As aulas haviam terminado e Lily estava no seu quarto com Alice, fazendo as malas.

- Então, como estão as coisas com você e Frank, você tem algum grande plano para o Natal?

Alice sorriu sonhadoramente.

- Ele irá me visitar. Eu nunca pensei que eu poderia ser tão feliz, Lily. O meu melhor amigo, eu ainda não posso acreditar que ele é era o garoto especial que eu procurava. É o tipo de coisa que você sempre está perto de você, mas nunca imagina que pode acontecer com você.

- Sim, bem, você sabe o que eles dizem: você sempre pode se apaixonar pela pessoa que você menos espera.

Lily parou o que estava fazendo, a realidade a acertando como um imenso tijolo.

- A pessoa que você menos espera – ela repetiu para si mesma.

- O que foi isso? – Alice perguntou, animada.

- Alice, que horas são? O prazo acabou?

Alice olhou para seu relógio.

- A gente saiu de última aula alguns minutos mais cedo, então não, ainda restam cinco minutos, tecnicamente.

Lily atirou sua mala para o lado.

- Termine minha mala para mim, eu tenho que ir.

- Onde?

- Eu tenho que achar James – ela falou, correndo para fora do quarto.

Ela corria, trombando nas pessoas, não parando se desculpar, mas o fazendo enquanto corria. Ela quase derrubou o Prof. Slughorn no chão, correndo a toda velocidade.

Finalmente, ela alcançou o salão principal, onde James estava esperando dar a hora para ir embora.

- James! – ela chamou, ofegante, andando até alcançá-lo.

James virou a cabeça, olhando para ela, desapontamento em seus olhos.

- É o fim do semestre, Lily, você ganhou, eu nunca poderei falar com você de novo.

- Não, James – ela falou, alcançando-o a fim de segurar o pulso dele, olhando para o relógio. Dois minutos até que o prazo estivesse oficialmente terminado.

Não houve tempo para explicar, só o tempo para agir. Ela ficou na frente dele, jogando-se nos braços de James e beijando-o. Ele ficou tão surpreendido que não fez nada de início, mas a segurou, para então beijá-la de volta.

Ela envolveu o pescoço de James com seus braços, beijando-o com uma intensidade como se fosse o último beijo que uma pessoa estivesse dando. Ele puxou Lily contra si, enterrando uma mão em seus cabelos e a outra em torno de sua cintura, quase levantando-a do chão.

Depois do que poderia ter sido momentos, ou dias, eles se separaram.

- O que foi isso? – ele perguntou, libertando-a.

- Você ganhou. A aposta, você venceu – ela disse.

- O semestre acabou, eu perdi.

- Não, eu olhei o relógio, havia dois minutos.

- Lily, esse relógio está cinco minutos atrasado

Lily baixou o rosto. Cinco minutos de atraso? Era tarde demais.

- Então você perde?

- Eu perco.

Lily olhou para baixo, no chão. Isso significava ter que dizer, e dizendo o que deveria ser dito era muito mais difícil do que perder uma aposta.

- Eu queria que você ganhasse – ela disse suavemente.

- Então, por que não me deixou ganhar ontem?

- Porque eu era estúpida e estava com medo – ela admitiu.

- Medo? – retorquiu James.

Lily sorriu para ele.

- Você não vai me fazer dizer isso, vai?

- Não há maneira alguma de eu não fazê-la dizer isso.

Lily aproximou-se dele, um sorriso em seu rosto.

- Mesmo com todas as provas em contrário, e apesar de todas as minhas recusas, estou apaixonada por você.

- Você está apaixonada por mim? Não vai mudar de ideia ou qualquer coisa em você?

Lily sorriu, talvez ela merecesse ouvir isso.

- Não, eu não estou mudando minhas concepções. Eu queria que você ganhasse a aposta, eu quero ser sua namorada, e eu espero que, mesmo sendo demasiado tarde, que você pense ainda em ficar comigo, porque – ela pausou, tomou ar e olhou para cima, encarando-o nos olhos – eu te amo.

James a abraçou e a puxou para mais perto.

- Acho que posso estudar isso – ele brincou.

- E quando vai decidir?

- Eu te aviso quando isso acontecer.

Lily sorriu, envolvendo-o com seus braços.

- Alguma coisa que eu possa fazer para convencê-lo?

- Nada. Eu já decidi.

- E?

- Eu te amo – ele respondeu.

- Eu também te amo – ela retorquiu, adorando a facilidade com que as palavras deixaram sua boca.

- Você não sabe quanto tempo eu esperei para ouvir isso.

- Eu acho que sim. E eu prometo que vou compensar. Mas, agora, eu realmente adoraria que você me beijasse – Lily disse, trazendo-o mais perto.

- Qualquer coisa por você – James falou, beijando-a.

Eles ignoraram a multidão de espectadores, o resto do mundo não tinha importância. Estavam muito concentrados um no outro para se importar. E isso era exatamente como Lily queria. James e ela finalmente estavam juntos, com aposta ou não, não importava. Eles estavam juntos, e essa era a única coisa que contava. Tudo estava certo.


Fim.

Capítulo 19

Lily não queria interromper seus amigos, os quais tinham permanecido com os lábios colados por bons dez minutos (fazendo Lily se perguntar se eles sequer iriam fazer uma pausa para respirar), quando ela percebeu que seria melhor interrompê-los. As pessoas estavam passando onde eles estavam, e ela sabia que demonstração pública não fazia parte do estilo deles.

- Hum... Alice, Frank... Não que eu desaprove o que vocês estão fazendo, mas vocês deveriam procurar um outro lugar.

O casal se separou. Alice tinha um sorriso em seu rosto e Frank parecia ter acordado de um sonho.

- Onde podemos ir? Nós precisamos de um lugar vazio para conversar – Alice falou.

- Conversar não é o que eu tenho em mente, mas seja o que você quiser – Frank respondeu, entrelaçando sua mão com a de Alice.

Alice rolou os olhos com o comentário, porém o sorriso em seu rosto mostrava que concordava.

- Hei, eu conheço o lugar que vocês poderiam ir, é realmente romântico. Eu mostro a vocês – James ofereceu.

- E como você sabe sobre esse lugar? – Lily perguntou bruscamente.

- Eu estava planejando levá-la até lá. Ainda estou. Por quê? Ciúmes?

Lily bufou e desviou o olhar. Ela não estava com ciúmes. Ciúmes era uma emoção inútil e ridícula para aqueles inseguros que o confessavam para então se sentirem seguros.

- Como se eu tivesse uma razão para estar.

James sorriu com a expressão do rosto dela. Parecia que ele tinha tocado num ponto sensível.

- Em todo caso, vou mostrar o lugar a vocês, venham.

Lily estava sentada e não olhava para James. Ela não estava zangada com ele, e sim irritada consigo mesma pelo seu momento ciumento. James sabia, por isso fizera aquilo.

- Vão vocês, eu vou ficar aqui e trabalhar no nosso dever de casa. E vou checar o de vocês – falou para Alice e Frank.

- Por que não checa o meu? – protestou James.

- Por que você ainda não o fez.

- Ah, sim – James disse, notando o olhar aborrecido de Lily. – Eu pensei que pudéssemos fazer juntos.

- Claro – Lily retorquiu descrente, embora não houvesse soado irritada e sim divertida, o que James tomou como um bom sinal.

- Você tem certeza sobre checar nossos deveres, Lily? – Frank perguntou.

- Claro.

- Nós te amamos, Lily – Alice falou agradecida, indo em direção à porta.

- Te amo, tchau – James também falou.

- Eu também, tchau – Lily falou, não levantando o olhar do livro que estava aberto.

James parou de andar.

- O que você disse?

- Huh? Nada – respondeu Lily sem pensar. O que ela havia dito? Ela apenas dissera tchau e... Ela ofegou quando percebeu o que dissera.

- Você disse "eu também" quando eu disse... – James começou, deixando sua voz falhar.

- Eu não estava falando com você! – Lily falou rapidamente e um pouco mais rude que o necessário. – Eu estava dizendo para Alice e Frank.

James não pareceu convencido.

- Você realmente acha que a primeira vez que eu disser isso a você será "eu também"? Isso é tão simplório, tão não-romântico e... – ela falou irritada, então parou de falar, olhando para outro lugar.

James riu dela. Ela tinha obstinação, e ele tinha certeza que isso não importava. Ela havia dito a ele da mesma maneira que dissera não gostar dele. Entretanto, certamente ele gostaria de ouvir as palavras.

- A hora que você estiver pronta, Lily.

Ela virou a página do livro agressivamente. Estava mais irritada com a situação do que com ele, mas conhecendo seu temperamento James não tinha certeza se deveria ficar, então se foi. Afinal, Alice e Frank estavam esperando por ele.

Lily fechou o livro num baque tão logo James saiu do salão comunal. Ela não tinha exatamente mentido quando dissera que o que havia dito fora direcionado a Alice e Frank, isso era verdade. Mas a resposta foi direcionada aos três, um tipo de resposta generalizada.

Porém ainda a chocava ouvir a si mesma dizendo isso. Dizer para James. Ela havia admitido para si mesma que gostava dele, mesmo que ela real e verdadeiramente gostasse dele, mas amar já estava numa categoria completamente diferente. Amar era grande. Ela não havia experimentado o amor, antes. Ela não sabia como lidar com isso. Não sabia se poderia lidar.

De repente, ela se sentia tão perdida quanto começou a perceber que gostava de James. O mundo todo estava fora de controle e nada estava certo, nada nunca esteve certo. Ou, talvez estivesse certo demais mas no tempo errado. Ela poderia superar por saber que acabara ficando com ele por causa de uma aposta estúpida? Uma que ele nem sequer ganhara ainda.

Isso tudo parecia soar tão infantil, como se nada fosse importante. Contudo, qual era a alternativa, perdê-lo para sempre? Ela o queria, porém não por causa de uma aposta. Lily não sabia o que fazer. Não existia nada e nem ninguém para lhe dar respostas.

Ela o amava? Era apenas uma paixão passageira? Ela poderia perder a aposta para ser o prêmio dele? Ela nunca parou para pensar no que poderia acontecer caso desenvolvesse sentimentos por ele, que tipo de bagunça poderia criar. Ela tinha acreditado cegamente que venceria a aposta, ela o tinha odiado tão teimosamente. E para quê? Odiá-lo por ser uma pessoa que ele não era desde o sexto ano. Era claro o quão estúpida ela havia sido.

Mas o que fazer? Ela o amava, não o amava. Ela o amava, não o amava. Ela realmente amaria saber.

Depois de quase morrer de tanto pensar sobre isso, Lily percebeu que seria melhor ela ficar longe de James aquela noite para poder colocar as idéias no lugar. Ela disse a ele, antes da patrulha dos corredores, que precisava de espaço. Ele a olhou preocupado, ao que ela explicou que era apenas por uma noite, para que clareasse a mente. James concordou, dizendo a ela que patrulharia os corredores enquanto ela "clareava a mente".

No dia seguinte, ela havia chegado à decisão de ficar indecisa. Se ela o amava, ela o amava, se não, então não o amava. E isso era realmente simples. Ou ao menos um simples truque que ela acreditava.

James sabia que ela estava tendo um tipo de guerra mental (o que freqüentemente acontecia quando o assunto era ele) e pensou que o melhor seria não pressioná-la. Porém, ele não iria exatamente deixá-la fugir. Ele esperou todo o tempo possível ao lado dela, fazendo-a rir, conversando sobre coisas desinteressantes a ela, a qual fingia ouvir por ele.

Mas tudo isso apenas mostrou algo a James. Se Lily Evans estava disposta a ouvir a última jogada do último jogo do campeonato de quadribol, lance por lance, então ela definitivamente o amava. Ou pelo menos se importava muito com ele.

Ele não tentou beijá-la porque ele percebeu que ela se sentia encurralada. James havia esperado que ela o beijasse, que mandassem a aposta para o inferno, a qual parecia separá-los como uma cortina invisível.

No entanto, a três dias de terminar a aposta, a paciência de James estava perdendo forças. E ele tinha uma enorme paciência com Lily, mas essa era uma situação desesperada.

Lily estava estudando, o que ela fazia rigorosamente pelos professores estarem tentando enfiar todo pedaço de conhecimento possível em suas cabeças antes que eles não agüentassem mais. James havia optado por não estudar, permitindo-se livrar sua mente de qualquer conhecimento desnecessário e absorver apenas o que lhe era necessário para passar de ano. Ao menos essa era a desculpa que ele usara com Remus, a mesma que depois ele dera a Lily. Remus havia dito para ele estudar.

- Olá, Lily.

Ela não respondeu, ao menos não o que alguma linguagem humana decifrasse. Foi mais um som gutural, o qual, James tinha que admitir, foi nada atraente, mesmo vindo de seu amor.

- O que você está fazendo? – ele perguntou esperando ter uma resposta. Algo além do barulho que lembrava o que um elfo doméstico insano poderia fazer.

Lily indicou seus livros com os olhos. James fingiu não perceber.

- Você está estudando?

Lily agarrou a extremidade de seu livro, frustrada.

- Não, James, estou lendo meu livro por prazer.

- Você faria isso.

Ela o encarou. James jogou-se ao lado dela, colocando seu braço nos ombros de Lily. Ela chacoalhou os ombros para livrar-se dele.

- Agora não. Estou ocupada. – Ela nem sequer o olhou enquanto dizia isso. O nariz quase se encostando ao livro.

James considerou livrar-se do livro, mas achou que isso deixaria Lily mais distante.

- Por que o estudo excessivo?

Lily ergueu os olhos, seu rosto expressando desespero.

- Eu fiz sete pontos, em dez, no teste de Feitiços, ontem.

James quis rir. Se fosse assim, então ele estava perdido. Ele não tinha como consertar, nem como evitar.

- Isso não é tão mal. É setenta porcento certo, que significa apenas trinta porcento errado. E foi melhor do que eu, que tirei cinco, de dez. Não foi melhor que a do Sirius, você realmente sabia que ficaria atrás dele. Considerando tudo o que ele fez com o nome dele, aquelas frases coloridas, embora eu não possa ver como... – James meneou a cabeça, então voltou ao ponto da conversa. – E nem mesmo Sirius foi perfeito, ele tirou nove. Peter tirou três, o que é uma completa oposição com você.

Isso não tranqüilizou Lily, a qual deixou a cabeça cair em direção ao livro, gemendo. James levantou-a.

Lily o olhou de lado.

- Meu cérebro dói.

- Muita obrigação, pouca diversão – James disse.

- Você não deveria estar estudando?

- Devia, mas, em vez disso, eu vim até você, ajudá-la, porque você parecia inteiramente necessitada de salvamento.

Lily bufou.

- Uma história apropriada.

- Eu posso estudar com você – ele sugeriu, mais precisamente porque ela parecia pronta para cair no sono.

- Tudo bem. Mas lembre-se que eu disse a você que era uma perfeccionista.

Ambos se ajeitaram, concentrando-se no que estavam estudando. James passou a apenas estudar Lily. Ela parecia cansada.

- Lily, você deveria subir. Tirar um cochilo.

- Em alguns minutos – ela disse automaticamente.

Ele ficou mais perto, querendo pegar o livro dela. Ela desviou as mãos dele com um tapa. James conseguiu segurar a mão de Lily, considerando usar essa situação para puxá-la mais perto. Ele mudou de idéia quando foi ignorado; Lily voltando sua atenção para o livro.

James observou a mão dela na dele, esperando que ela lhe desse atenção.

- Você rói unhas?

- U-hum – ela respondeu sem olhá-lo.

James decidiu tentar um modo melhor de conseguir a atenção de Lily. Pegou a mão dela que ele segurava e começou a beijar-lhe os dedos. Ele a viu enrijecer.

- Pare com isso, está me distraindo.

- Esta é a intenção.

Lily virou o rosto para encará-lo.

- Estou tentando me concentrar – falou.

- Eu também. Em você.

Lily rolou os olhos, mas deixou que ele puxasse sua mão a fim de que ficassem mais perto. James estendeu sua outra mão e colocou uma mecha do cabelo de Lily atrás da orelha dela, trançando depois seu dedo pela mandíbula dela até alcançar-lhe os lábios.

A garota deixou escapar um pequeno suspiro.

- Você ainda está me distraindo.

- Eu estou tentando.

Lily fechou seus olhos, deixando que os lábios de James aproximassem-se dos seus.

- Você realmente tem que ir. Você tem algo que faz meu cérebro parar de trabalhar – ela falou.

James não respondeu. Apenas ergueu a mão, deslizando seu polegar pelo lábio de Lily. Ele queria tanto beijá-la, mas queria que a iniciativa partisse dela.

Lily fechou seus olhos, inconscientemente inclinando-se na direção de James. Seus lábios estavam quase se encontrando, mas antes a porta do salão comunal abriu-se ruidosamente e James ouviu alguém chamar pelo seu nome, sentindo Lily afastar-se rapidamente.

James olhou para cima, querendo matar a pessoa que o havia chamado.

- O quê?

- Oh, eu não queria...

- Não, você não queria caso você esperasse por pelo menos mais um minuto – James falou entre os dentes.

Peter pareceu assustado. Ele não era bom em retrucar palavras raivosas. Não que ele recebesse muitas, James não era do tipo que brigava com os amigos.

- Sirius e Remus pediram para eu vir aqui. Nós temos que ir para aquele lugar, fazer aquilo.

Normalmente isso teria chamado a atenção de Lily. No entanto, ela se recusava em olhar ou ouvir qualquer coisa.

- Vejo você à noite, Lily.

Capítulo 18

Lily tinha acabado de contar sua história sobre o que acontecera na noite anterior. James tinha tentado se desculpar com afinco, quando ela era a única quem estivera errada. Ou a mais errada, como ela disse.

- Tinha flores, música e candelabros? Ah, é tão romântico! - falou Alice.

- Não se esqueça das palavras no quadro-negro.

- Lily, foi tão doce. Você teve desculpas à luz de velas, tudo o que eu tenho são cartas de amor de um garoto de doze anos.

- Me sinto mal; ele tentou tanto, sabe, e o que eu disse...

- Mas você se desculpou - Alice ressaltou.

- Eu sei, mas quero dar a ele algo mais que palavras - falou Lily.

- Acho que você já deu, levando-se em consideração essa marca de chupada em seu pescoço - Alice comentou.

Lily levou sua mão ao pescoço.

- Eu não tenho marca de chupada.

- Então, como você sabia que lado do seu pescoço eu estava me referindo?

Lily fez uma careta.

- Eu não serei caçoada por você, não é?

- Oh, sim, constantemente - Alice assegurou, sorrindo.

- Vamos logo tomar café.

Lily e Alice se juntaram aos outros à mesa, percebendo que James estava ausente.

- Onde está James?

- Embrulhando seu presente. Ele disse que queria entregá-lo embrulhado por ele mesmo. Ele pensou que você gostaria mais se fosse desse jeito, sendo você uma nascida trouxa, e é como seus presentes são em seu mundo - Peter respondeu.

- Então, eu suponho que vocês dois fizeram as pazes? - Remus perguntou, olhando para o pescoço dela.

- Não diga coisa alguma.

- Sabe, você poderia usar um feitiço para isso - Sirius disse.

- Eu não sei como - Lily choramingou.

Sirius puxou a varinha e falou um feitiço, ao que Alice gritou:

- Sumiu!

- Verdade? - Lily perguntou feliz. - Como você aprendeu isso?

- Não me lembro.

Lily bateu o pé impacientemente. Onde estaria James?

- Lily, você está chacoalhando seu banco - Frank falou.

- Certo. Hei, você e Alice deram um jeito de fazer aquela lição de casa, noite passada?

- Não. Nós fizemos Remus nos deixar copiar. Livrá-la de problemas - Frank respondeu.

- Eu disse a eles para pararem de tentar colar de você - Remus adicionou.

- Eu acho que te amo - retorquiu Lily.

- Quem ama quem? - James perguntou, jogando-se no banco, ao lado de Lily.

- Lily me ama - Remus respondeu.

- Que simpático. Posso perguntar por quê?

- Oh, nós tínhamos um apaixonado romance secreto. Não iríamos dizer a você, mas não estávamos conseguindo esconder mais - Lily gracejou.

- O quê? Remus, eu pensei que tivéssemos algo especial - Sirius falou.

- Sirius, você jurou que vocês tinham terminado - Peter disse num falsete.

- Mas, Peter, eu pensei que você me amasse - disse Alice.

- Sinto muito, Alice, mas não posso evitar em como realmente me sinto.

- E eu não posso evitar trair você com o Remus - Sirius disse a Peter.

Lily fez uma falsa expressão de choque.

- Remus, não acredito que você está me traindo com o Sirius!

- Desculpe, Lily, mas você não era homem suficiente para mim.

James e Frank estavam assistindo à discussão, divertidos.

- Vocês são loucos - James concluiu.

- E eu concordo - disse Frank.

- Então, James, você vai me dizer o que me dará no Natal? - Lily perguntou.

- Não.

- Mesmo se eu disser "por favor"?

- Sim.

- Então não vou dizer o que eu vou te dar.

- Eu gosto de surpresas.

- Eu sei o que ele dará a você - Sirius disse.

- O quê?

- Ele está passando um laço ao redor dele mesmo e vai aparecer para você ao pé de sua cama.

- Oh, droga, era isso que eu esperava ganhar - Alice gracejou.

- Se você quiser, eu te dou isso - Lily ofereceu.

- Não, eu gosto do que você já vai me dar.

- Como você sabe o que vou lhe dar?

- Ah, eu olhei nas tuas coisas.

- Alice!

- Como você não fez comigo ano passado - Alice retorquiu irônica.

Frank rolou os olhos.

- Elas fazem isso todo ano. Por isso que escondo os presentes que dou a elas.

James olhou para Lily.

- Boa ideia - falou.

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Lily puxou Alice para o quarto delas.

- Tenho um problema.

- O quê?

- Eu não tenho presente para o James.

- Por quê?

- Eu não sei o que dar.

Alice olhou para ela indiferente.

- Ah, 'tá legal, eu quero dar a ele algo adequado, que também mostre que eu realmente sinto muito.

- Então, acho bom você ir comprar alguma coisa, rápida e discretamente.

Lily empertigou-se de repente.

- O quê? - perguntou Alice.

- Tenho que ver Slughorn. Ele conhece pessoas.

- E...? - Alice falou, esperando que Lily lhe explicasse.

- Tenho uma ideia. Vejo você mais tarde - a garota disse, saindo apressadamente.

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Lily andou até o salão comunal com uma expressão satisfeita. Ela estava tão feliz que dificilmente percebeu Alice e Frank, os quais estavam sentados juntos no sofá, os rostos corados.

- Oi, Lily, por que tão feliz? - Alice perguntou.

- Tenho o presente do James. Só tenho que esperar para dar a ele.

- O que é? - perguntou Frank.

- Por que vocês estão vermelhos? - Lily perguntou.

- Oh, nós acabamos embaixo de um visco, juntos - Alice disse.

- Vocês se beijaram?

- Não - Frank respondeu rapidamente.

- Então por que estão corados?

- Aquele grupo de primeiranistas começaram a gritar para que nos beijássemos - explicou Alice.

- Isso parece ser bem embaraçoso - Lily admitiu.

Alice hesitou.

- Eu tenho que ir - ela disse. - Acabei de me lembrar que ainda não enviei uma coruja a minha mãe.

Lily esperou que a amiga saísse para virar para Frank.

- Por que você não a beijou? Eu pensei que você aproveitaria a chance!

- Eu não queria que o nosso primeiro beijo acontecesse por causa de um visco. Eu queria que fosse de verdade.

- James me disse que você disse a ele que contaria logo a ela.

- E vou. Eu quero dizer isso direito. Só que não sei como.

- É melhor que você descubra logo. As férias de inverno terminarão logo - ela lembrou.

- Vou dizer a ela. Logo.

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Alice estava no dormitório quando Lily chegou. Ela tinha um enorme sorriso em seu rosto.

- Que foi? - Lily perguntou.

- Eu tinha uma carta me esperando desde cedo. Meu primo vai se casar. Eu estava apenas pensando sobre o que eu iria querer no meu casamento.

- Você tem um noivo imaginário?

- Eu nunca vejo seu rosto. Mas eu tenho uma ideia geral de como ele se parece. Você pode dizer muito sobre uma garota pelos tipos de garotos que ela gosta - Alice replicou.

- Pode? Vamos ver, então.

- Quem você quer?

- Vamos começar com James e os amigos dele - falou Lily, esperando que essa conversa levasse até Frank.

- Hum, Peter... Bem, não estou certa do tipo de garota que tenha gostado dele, o tipo que gosta de mandar. Eu gosto dele e tal, mas ele é um pouco banana às vezes. Remus... uma garota um pouco maluca, você sabe que ele é muito racional. Sirius, qualquer uma que goste de um desafio, ou que não queira nada disso, depende do que ela procura. E James... - Alice parou para depois continuar: - Ruivas de olhos verdes com temperamento difícil.

Lily sorriu, sabendo que seria algo realmente nesse sentido.

- E Frank?

Alice sorriu.

- O tipo que gosta de ficar sozinha em situações ruins, mas que também precisa de alguém para ficar junto e segurar a mão dela; o tipo que quer alguém que a olhe e realmente a veja, e entenda coisas sobre ela, coisas que nem ela percebe. O tipo que quer alguém para conversar, o tipo que segure o cabelo dela quando ela estiver doente, ou alguém que sempre disponha o ombro para ela chorar. O tipo de garota que possa olhar para ele, e quando ele olhar de volta, percebe que pode ser tudo e muito mais do que ela um dia sequer pensou ser.

- E você acusa a mim de estar negando?

- Negando?

- Isso não poderia ser mais óbvio. Você e Frank. Vocês são perfeitos!

Alice corou, um sorriso em seu rosto.

- Somos apenas amigos.

- Por enquanto - Lily adicionou.

Alice não respondeu. O olhar da garota já dizia tudo.

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Na manhã seguinte, Frank pareceu abatido e cansado. Lily perguntou o que havia de errado.

- Eu levantei cedo para tentar pensar em um jeito de contar a Alice. Ela gostou quando aquele cara enviou poemas a ela, então eu pensei que poderia lhe dar um. Mas eu não conheço poema algum, e pensei que eu mesmo poderia escrever um. Acontece que não sou bom nisso.

- Ela vai apreciar o esforço - Lily o animou.

- Você acha?

- Acho. Quando você vai dizer a ela?

- Hoje, durante um período livre. Lily, você poderia estar lá para o caso de ela dizer não? Sabe, para nos ajudar a ainda sermos amigos.

- Estarei lá. Mas, acredite, ela não dirá não.

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Slughorn segurou Lily após a aula, ao que os outros lhe mandaram olhares questionadores. Ela disse para que eles fossem sem ela.

Depois de ter pegado o que precisava para presentear James, ela foi se encontrar com o rapaz. O quarto dele foi o primeiro lugar que Lily olhou. Bateu na porta, ouvindo um movimento. Depois de esperar um minuto, ergueu a mão para bater de novo, mas a porta se abriu, ao que Amanda apressou-se para fora com um grande sorriso em seu rosto.

- Oi, Lily. Feliz Natal.

- Para você também - ela respondeu, voltando sua atenção para dentro do quarto. - O que ela estava fazendo aqui? - perguntou.

- Dando meu presente de Natal - Sirius respondeu.

Lily olhou de Sirius para o quarto, atrás dele, vendo a bagunça em que ele estava.

- Quer saber, não vou nem perguntar.

- Procurando por James?

- Sim. Ele está aqui?

- Você acha que eu estaria fazendo isso se ele estivesse aqui?

- Espero que não. Sabe onde ele está?

- Em algum lugar lá fora.

- Quanta ajuda - ela retorquiu secamente. Então se animou. - Espere, quero mostrar o presente dele, veja se ele vai gostar.

Ela puxou de seu bolso, mostrando-os a Sirius.

- Gostar? Ele vai amar! Eu os quero. Largue ele e se case comigo - gracejou Sirius.

- Então ele com certeza vai gostar?

- Com certeza.

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Lily deparou-se com James no corredor a caminho do salão comunal. Ela estava praticamente desistindo de procurar por ele quando ele apareceu ao seu lado.

- James, eu estive procurando por você.

- Esteve?

- Por que está surpreso?

- Eu pensei que você estaria mais não-sociável depois da noite passada.

Lily desviou o olhar, decidindo não pensar sobre isso. Ela não quis deixá-lo irritado, mas teve que se apressar para ajudar Alice e Frank.

- Não. Na verdade, tenho o seu presente. Decidi dar antes a você - ela falou, segurando o presente dele. - São bilhetes para a temporada, do seu time favorito de Quadribol. Não consegui na primeira fila, os assentos que consegui são da quarta, mas são bons lugares. Não que eu pudesse saber, Quadribol não é minha área.

- Eles são para cada jogo da temporada? - James perguntou.

- Sim, ah, e são para duas pessoas, caso você queria levar um amigo - Lily adicionou.

Ela esperou pela resposta de James.

- Lily, isso é maravilhoso, mas deve ter custado uma fortuna.

- Na verdade não, você sabe como o Slughorn gosta de mim, e ele conhece pessoas, e a gente fez um acordo. Então, você gosta? - perguntou nervosa.

- Sim, eu gosto, mas por que tanto?

- Um tipo de desculpas. Você sabe, por ter sido uma idiota ao dizer aquilo a você.

- Lily...

Ela fechou os olhos quando ele se inclinou, então desviou, pegando a mão de James.

- Nós temos que ir. Frank irá se declarar a Alice no salão comunal, eu não quero perder isso.

James a seguiu. Tão perto...

Quando eles chegaram ao salão comunal (o desapontamento de James já diminuído, pois ele queria ver a declaração, e sempre poderia beijar Lily mais tarde), Alice e Frank estavam sentados no sofá.

- Ele disse a ela? Nós perdemos?

- Shh - Lily sussurrou, cutucando-o.

- Frank, que é? Você disse que tinha alguma coisa para mim.

- Eu tenho. Olha, desde que você gostou quando seu admirador lhe enviou uma poesia, eu decidi te dar uma. Escrevi para você.

- Você me escreveu um poema? Isso é tão doce, leia para mim - Alice disse excitada.

Vê-la

É poesia em movimento

Ouvi-la

É mais suave que sinos,

O suave badalar.

Na morte do inverno,

Ela é minha primavera.

- Ah, Frank, é tão... Mas, por quê? - Alice perguntou atordoada.

- Porque... Porque estou apaixonado por você. E eu tenho tentado dizer isso a você há muito tempo - ele confessou.

Alice ficou boquiaberta.

- Você está apaixonado por mim?

- Estou. E entendo se você não...

- Você deveria ter me dito há eras - ela o cortou.

- Você quer dizer que...

- Há muito tempo - ela disse, sorrindo, enquanto se aproximavam.

Lily estava tão feliz que ela queria sair pulando. Seus dois melhores amigos haviam finalmente admitido seus sentimentos e estavam finalmente se beijando.

James colocou um braço ao redor dela.

- Você se lembra do nosso primeiro beijo?

Lily riu.

- Como eu posso esquecer? Você me beijou, saindo de lugar nenhum, na frente de centena de pessoas.

- Mas isso fez você aceitar a aposta.

- Não foi por isso que aceitei. Eu realmente te odiava, sabe.

- As coisas mudam.

Lily sorriu, olhando para Alice e Frank.

- Sim, elas mudam.

Capítulo 17

Em seu coração, James sabia que Lily não quis dizer aquilo sobre beijar aquele rapaz. Ela havia pensado que fosse ele, ou ao menos ele supunha ser isso que ela quis dizer com "Eu pensei...". Ele nem sequer a deixou terminar.

James sabia que ela era inocente, que não intencionava traí-lo. Contudo, ele se deixou levar por um ciúme enraivecido e gritou com ela. E ela gritou com ele.

E o que ela dissera foi pior do que ele lhe falara. James poderia perdoá-la por ter beijado o rapaz, Lily não sabia quem estava beijando, mas, pelo que ela havia dito? Ele julgou isso difícil de esquecer.

Lily quis falar com ele. Quis explicar. Ele não quis ouvi-la. E não sabia se iria querer.

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Lily ficou perto do corredor, esperando que Remus aparecesse. Ela havia tentado falar com James, mas ele simplesmente a ignorou. Isso foi há uma semana. Lily compreendeu que James precisava de tempo, mas ele não poderia ficar irritado com ela para sempre. E se ele não fosse ouvi-la, ela falaria com alguém que ele ouvisse.

- Remus - ela disse, prendendo seu braço no dele tão logo o rapaz saiu da sala de aula; com isso ele não poderia fugir. - Não diga nada, apenas ouça - ela pediu.

Ele não disse nada, e pareceu desejoso em ouvir. Quer fosse pela dúvida se acreditava nela, ou por estar segurando-o, Lily não sabia.

- Eu não pretendia beijar outro rapaz. Eu pensei que fosse o James. E quando eu percebi que não era, já era tarde.

Remus não respondeu nada.

- Eu juro, pensei que fosse ele! Você tem que acreditar em mim!

Remus soltou-se dela e suspirou.

- Eu acredito em você. E eu acho que James sabe disso. Não foi o que você fez. Foi o que você disse.

- Eu não quis dizer aquilo. Ele apenas me deixou irritada, pensando que eu faria aquilo com ele. Se eu pudesse voltar no tempo, eu voltaria.

- Mas você não pode.

Lily agarrou o braço dele novamente, olhando para Remus de maneira implorativa.

- Você tem que falar com ele por mim. Por favor! Eu não quero que as coisas fiquem dessa maneira.

- Vou tentar. Mas não esperaria muito se fosse você.

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James não quis escutar o que Remus estava falando.

- Ela disse que voltaria no tempo, se pudesse. Você devia falar com ela.

- Eu não quero falar com ela - ele disse friamente.

- Por que não? Ambos estão infelizes, estão deixando todos nós infelizes, por que você não faz as pazes agora mesmo?

- Ela disse que me odiava.

Remus estava prestes a desistir. Eles estavam fazendo isso há vinte minutos.

- Mas ela disse isso várias vezes - Peter salientou. Ele estava ajudando Remus a favor de Lily. O único quem não estava ajudando era Sirius, que não acreditava que ela se enganara ao beijar outro rapaz.

- Dessa vez é diferente.

Remus e Peter se olharam frustrados. Eles nunca seriam capazes de convencer James. Mas eles sabiam quem poderia...

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Lily quase pulou quando viu Remus e Peter. Ela esteve esperando por eles na biblioteca por meia hora.

- Então, funcionou?

O olhar no rosto dos rapazes respondeu sua pergunta.

- Ele não nos ouviu - Peter respondeu mesmo assim.

- Se ele não ouviu vocês, quem pode convencê-lo?

Remus e Peter se olharam e Remus deu um passo à frente, colocando a mão no ombro de Lily.

- Ele não ouviu Peter e eu. Mas, se você conseguir convencer Sirius a falar com James, ele pode ouvir o que você tem a dizer.

- Isso não deve ser tão difícil, certo? - Lily olhou para eles, desesperadamente.

Os rapazes se olharam novamente e então disseram para ela:

- Hum... Não tão difícil.

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Lily percebeu que seria mais difícil do que ela imaginou convencer Sirius. Diferente dos outros amigos de James, Sirius havia tomado a diretriz da mesma decisão do amigo, que era ignorá-la completamente.

- Sirius, por favor! Você tem que falar com ele por mim. Ele ouvirá você.

Nenhuma resposta.

- Ah, vamos lá, você não falará comigo nem mesmo para dizer "não"?

Sirius não respondeu.

- Sai dessa, não foi nem você quem eu "traí"!

Como resposta, ela recebeu um olhar irritado, mas nada mais.

- Você me conhece, você sabe que eu não o trairia intencionalmente.

Dessa vez, o olhar não foi apenas irritando, mas também impaciente.

- Preste atenção, se eu quisesse beijar outro, por que eu faria onde ele e todos os seus amigos poderiam nos ver? Isso não faz sentido algum.

Sirius ainda a olhava irritado, mas também estava ouvindo. Lily tomou isso como um bom sinal.

- Eu pensei que fosse o James. E eu apenas estava preocupada com o James batendo nele, porque eu não queria que o James se metesse em problemas.

Agora, ele a olhava cuidadoso, um pouco aborrecido ainda, mas considerando o que ela dissera.

- Eu não quis dizer o que eu disse, eu apenas fiquei irritada pelo James ter pensado que eu beijaria outro. Eu não quis dizer aquilo, ele tem que saber disso.

- Mas você disse.

Lily sentiu-se animada. Se Sirius estava falando com ela, significava que acreditava nela, e que poderia falar com James para ele fazer o mesmo.

- Sim, eu sei, mas...

- Não importa se você quis dizer aquilo. O que está feito está feito. Se você quer alguém para lutar por você, é melhor usar o Remus, porque eu não vou.

De repente ela sentiu muita vontade de chorar. Sirius fora sua última chance. Ela não sabia mais o que fazer.

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Lily estava exausta. Ela havia passado a maior parte do tempo tentando fazer James não ignorá-la, mas ele desaparecia para dentro do banheiro, ou para dentro de uma sala vazia, todas as vezes que a via. Depois de desistir disso, ela estava tão desesperada que foi para a biblioteca, esperando encontrar Amanda para que pudesse persuadi-la a persuadir Sirius a persuadir James a perdoá-la. Tudo o que ela gostaria de ouvir era: "Eu farei o meu melhor".

Finalmente, ela se sentou, enterrando o rosto em seus braços e chorou. Ela não era, na verdade, o tipo de garota que chorava muito, mas parecia que era a única coisa que ela poderia fazer ultimamente.

Lily não ouviu o som de passos atrás dela, então pulou quando sentiu uma mão em seu ombro.

- Lily, você está bem?

Era Amanda. Aquela garota morava na biblioteca?

- Na verdade não, mas vou ficar. Possivelmente - ela disse tentando seu melhor sorriso e falhando espetacularmente.

Mais som de passos se aproximou, e Lily viu Sirius parado. Ele olhou para o rosto dela manchado de lágrimas e suspirou.

- Vou falar com ele, está bem?

Em sua excitação, Lily pulou e o abraçou.

- Obrigada, obrigada, obrigada!

- Não me abrace ainda, quem disse que posso convencê-lo?

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- Tenho que conversar com você.

James olhou para cima, deitado em sua cama, de onde ele levitava um livro para passar o tempo.

- O quê?

- É sobre Lily - Sirius disse, desviando quando James lançou o livro em sua cabeça. - Sabe, não acho que isso seja necessário.

James não disse nada.

- Eu a vi hoje, na biblioteca, chorando muito. Você adivinha por quem ela estava chorando?

James olhou para Sirius.

- Ela estava chorando? - perguntou, tentando não soar interessado.

- Isso não foi o que eu disse? Ela está mal. Você está mal. Vocês deveriam se beijar e fazer as pazes agora mesmo.

James considerou o que Sirius disse. Se ela estava chorando...

- Você realmente acha isso? - perguntou.

- Se não, por que eu diria?

- Vou pensar nisso.

Mentalmente, Sirius contou até três, e então disse:

- Você já pensou, vá falar com ela.

- Não.

- Sim.

- Não.

- Sim.

- Não.

- Sim.

- 'Tá certo.

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Estava na hora de patrulhar os corredores, e desde que James estava aborrecido com ela, Lily esperava fazê-lo sozinha. Tinha sido assim desde que eles brigaram.

- Lily?

A voz estava suave, hesitante. O modo que Lily pareceria quando conversasse com James, se ele estivesse falando com ela.

- James.

- Você queria falar comigo? - ele perguntou, ficando ao lado dela.

- Queria.

- Então, vá em frente, ouvirei desta vez.

Lily olhou para ele para ver se James falava seriamente. Ele falava.

- Eu não tive a intenção de beijar aquele rapaz. Quero dizer, eu quis, mas apenas por pensar que fosse você.

James assentiu, ele havia cogitado isso.

- E eu queria que você soubesse disso, porque não conseguiria agüentar caso você me odiasse, por você pensar que eu faria isso com você - ela falou.

James viu lágrimas em seus olhos, o que o alarmou. Ele não dissera nada, Lily não deveria estar chorando.

- Não chore, Lily, eu acredito em você. As coisas podem voltar a ser o que eram.

- Mas elas não podem, você não percebe? - ela o interrompeu. - É por isso que estou chorando.

- Lily, do que você está falando?

- Você não acreditou em mim! Você diz que me ama, mas não acredita em mim, e eu não posso ficar com alguém que não acredita em mim - ela chorou, lágrimas caindo pelo seu rosto.

- Lily, espere - James falou, segurando-a quando Lily virou para ir embora. Ela soltou-se dele, fugindo pelo corredor.

James não foi atrás dela. Não saberia o que dizer.

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- Eu tenho que dar um jeito de tê-la de volta. Desculpar-me - James disse no dia seguinte ao café da manhã. Ele estava com Sirius, Remus e Peter. Lily e seus amigos não estavam lá.

- Eu amo a ironia: ela beija outro cara e é você quem tem que se desculpar - Sirius falou. James atirou sua colher nele.

- Eu tenho que falar com ela de novo.

- Você a vê toda noite - Remus falou.

- Eu tenho que fazer algo mais do que falar com ela. Eu tenho que conquistá-la de volta.

- Faça algo romântico. Algo grande - Sirius sugeriu.

- Certo. Mas preciso de toda a ajuda possível - James falou.

- Vamos começar com...

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Lily supunha que estava patrulhando os corredores sozinha pelo que havia feito a James. Na verdade, James estava agindo furtivamente para conseguir o que ele precisava para seu plano em ter Lily de volta.

Ela se sentia estranha por não tê-lo com ela. Esperava que esse sentimento a deixasse. Tinha que deixar, pois ela e James não tinham mais nada. Algo engraçado de se dizer, pois eles, na verdade, nem sequer tiveram algo.

O som de vozes a distraiu de seus pensamentos. Elas soavam como se estivessem numa discussão calorosa. Vinha de uma sala de aula vazia. Lily seguiu o som, pressionando sua orelha contra a porta para ouvir.

- ...sua estupidez, prometendo se juntar.

- Eu não tenho escolha.

- Você pode fugir.

- Você diz isso, pois fugir é algo que você faz de melhor.

- Eu tive que ir. Não poderia ficar lá com eles.

- Você nem sequer pensou que não era apenas da mamãe e do papai de quem você estava fugindo?

- Ninguém te forçou a ficar.

- Para onde eu iria?

- Para qualquer lugar, exceto lá.

- Eu não sou você, não posso ir embora.

- Então você desistiria de tudo para ficar, ser uma parte daquilo?

- Eles são a família. Famílias têm supostamente que permanecer juntas. Você nunca aceitou isso.

- Eles são um bando de idiotas. Não é tarde para você partir.

- Não é tarde para você voltar.

- Esqueça, eu nem sei por que me aborreci.

- Vá em frente, vá embora, é o que você faz de melhor.

Lily pulou para trás, saindo da porta, no mesmo instante em que ela era aberta.

- Lily, é você?

- Oi, Sirius, eu estava apenas... ah...

- Espiando?

- Não, quero dizer... Eu ouvi vozes e sou a monitora chefe, então tive que checar. Não quis interromper.

Ele fechou a porta e a puxou rudemente.

- Finja que não ouviu isso.

- Tudo bem. Como está James? - ela perguntou ansiosa. Mesmo que eles nem sequer estivessem juntos, ou viessem a ficar, ela ainda poderia perguntar sobre ele, pensar nele...

-Você vai descobrir isso logo.

Lily olhou para Sirius de maneira inquiridora.

- O que isso quer dizer?

- Você verá amanhã.

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Lily ficou esperando por alguma coisa durante todo o dia, mas nada aconteceu. Ela estava patrulhando os corredores sozinha novamente. Foi fácil, pois com o feriado todos queriam deliberadamente ficar embaixo dos viscos, então ela nem viu muitos casais escondidos em corredores escuros.

Ela estava pronta para dar por terminada sua ronda, voltar para seu quarto e dormir, quando viu luzes vindo de uma das salas de aula. Ela foi até lá, abrindo abruptamente a porta da sala e entrando, e ofegou quando a porta fechou atrás de si.

A sala estava decorada com centena de candelabros, pétalas de rosas no chão, música suave tocando. E apoiado à mesa do professor estava James.

- Isso tudo é...

- Para você? Sim. Mas os outros ajudaram no plano.

- A música... Você não pode ouvi-la do corredor.

- Feitiço Silenciador.

Lily olhou ao redor, vendo palavras escritas no quadro-negro. Inicialmente, elas apenas diziam seu nome, e então mudavam para "Sinto muito", depois "Me perdoe" e então "Eu te amo".

- Nossa, isso é... Quero dizer, por que tudo isso?

- Para te ter de volta. Eu pensei que, se a impressionasse o bastante, você ficaria aqui para escutar - James explicou.

Lily olhou pela sala para depois olhar James.

- Certo. Ouvirei.

- Não foi que eu não acreditei em você. Eu só estava, não sei bem, realmente com ciúmes, e fiquei furioso. Eu sabia que você não quis beijá-lo. Eu sabia disso. Não foi o que você fez. Foi o que você disse depois.

- Então, foi por isso que você ficou irritado?

- Você disse que me odiava. Isso me fez lembrar o que começamos, e o quão longe fomos, e eu senti que estava perdendo tudo isso. Como se não tivesse valido à pena. Isso e você dizendo que poderia beijar qualquer garoto que você quisesse.

Lily olhou para o chão. Como eles poderiam ficar desse jeito tão errado?

- Sinto muito por ter dito aquilo.

- Sinto muito por ter gritado com você. Eu deveria ter deixado você explicar.

- Você deveria. E teria deixado, caso eu não tivesse dito aquilo - Lily retorquiu.

James aproximou-se dela.

- Então, você não me odeia?

- Não, eu não te odeio. De forma alguma - Lily respondeu, também ficando próxima a James.

Ela não teve certeza de como aconteceu. Num momento, eles estavam há meia sala de distância, e no outro, ele tinha o rosto dela em suas mãos e a beijava como se nunca pudesse parar. Não havia algo para definir, foi duro, rude, cheio de saudade. E ela ansiara por isso. Mesmo quando ela pensava que eles não ficariam mais juntos, Lily queria isso mais do que conseguiria suportar.

Os lábios dele contra os dela, seu corpo contra o dele, línguas buscando, mãos explorando, era tão certo. Como se fosse exatamente onde eles deveriam estar.

Ela sentiu-se sendo erguida do chão, nunca interrompendo o beijo. Envolveu suas pernas ao redor de James enquanto ele varria com o braço, atrás dela, tudo o que estava em cima da mesa, deitando-a em seguida. Ela o sentiu aprofundar o beijo, e gemeu. Certamente ele não pararia por aí, pois James a tinha deitado na mesa, ficando entre suas pernas. Não era a hora certa para parar.

Ela percebeu que ele não estava parando, apenas movendo seus lábios, deixando uma trilha de sua mandíbula até sua orelha, mordendo num ponto sensível, descendo para o pescoço. Lily instintivamente arqueou suas costas, pressionando suas unhas nos ombros de James.

James gemeu, afastando-se.

- Lily, eu tenho que parar isso - ele falou, observando seus olhos enevoados, os lábios inchados.

- Não, você não tem - ela retorquiu, puxando-o de volta.

- Acredite em mim, eu tenho. Eu não posso fazer o que eu quero fazer com você, aqui, em cima de uma carteira em uma sala vazia. Você merece mais do que isso - ele disse, querendo nada mais do que desdizer as próprias palavras e fazer o que estava pensando. - Então, eu tenho que parar de tocar você - ele continuou, passando seu polegar pelo lábio inferior de Lily, vendo-a suspirar profundamente e fechar os olhos trêmulos com o contato. - E parar de beijar você - falou, inclinando-se e beijando o ombro dela, que ele havia de alguma maneira desnudado, para depois colocar a roupa no lugar.

- Hum, você tem certeza? - Lily falou embaixo dele, pressionando seu corpo no de James.

- Você está tornando isso mais difícil - retorquiu James, inclinando-se e beijando-a de novo, antes de puxá-la rapidamente caso não conseguisse parar.

James a puxou, deixando Lily sentada, tirando as pernas dela ao redor de si e dando um passo para trás.

- Eu não quero que você faça algo que vá se arrepender depois.

Lily, que estava naquele momento voltando a raciocinar, assentiu.

- Certo. Algo que eu vá me arrepender depois. Mas não agora...

- Lily, eu te amo, e eu não irei amar você em cima de uma mesa.

- Certo. Porque isso seria ruim. Realmente ruim - ela disse mais para convencer a si mesma.

- Então, eu vou te levar de volta para o salão comunal e terminar a ronda sozinho - James falou segurando-a pela mão e puxando-a para seu lado.

Quando eles chegaram ao salão comunal, ele soltou a mão de Lily.

- Boa noite, James - ela disse, os olhos ainda enevoados.

James teve que parar a si mesmo de pensar em agarrá-la e beijá-la novamente, de carregá-la para o sofá e fazer todas as coisas que ele tinha imaginado em sua cabeça.

- Boa noite, Lily.

Capítulo 16

Lily estava satisfeita de que ela e James estivessem em comum acordo. Isso parecia ser uma luz no fim do túnel no relacionamento deles, um alívio. Eles poderiam conversar e rir que isso não iria parecer fora do normal, ou como se fosse um acontecimento.

Mas, ainda não houvera beijo. James queria que as últimas oportunidades que ele tivesse fossem absolutamente perfeitas. O que significava esperar pelo momento perfeito.

Isso não a assustou muito; Lily estava planejando a operação Frank e Alice: Beijo e Reconciliação. E ela precisaria da assistência de James.

Foi durante as rondas, cerca de uma semana depois de ela ter admitido sua atração por ele, que Lily levantou a questão.

- Nós precisamos fazer Alice e Frank voltarem a ser amigos.

- "Nós"?

- Eu tenho um plano. Trancá-los juntos dentro de uma sala de aula vazia até que eles se desculpem.

- Isso parece fácil. Por que você precisa de mim? - ele perguntou.

- Para atrair um deles para dentro da sala. Eles não irão, se souberem que o outro estará lá - explicou Lily.

- Certo. Eu cuidarei de Frank, você apenas pega Alice.

- OK. Escute, eu estava pensando que amanhã...

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- Lily, você tem certeza que nós temos que aparecer aqui? Desde quando você foge de seus deveres de Monitora Chefe para matar o tempo com James e a turma dele?

- É muito importante, esta noite. Especialmente para você.

- Por quê? Vocês estão me iniciando em um clube?

Lily congelou. Aquelas palavras reavivaram lembranças. Clubes, grupos secreto. O que era isso, no canto de sua memória?

- Há uma guerra vindo, decida de qual lado você está!

- Eu estou no seu lado!

- Prove.

- Eu me juntarei quando for mais velho.

- Lily? Olá, Terra para Lily?

Lily chacoalhou sua cabeça, sorrindo para Alice.

- Desculpe, estava apenas pensando em uma coisa.

- Em quê?

- Algo que ouvi, no Halloween, que apenas me lembrei.

- Alguma coisa importante?

- Não tenho certeza... - Lily murmurou. - Hei, aqui estamos nós. Vamos entrar.

Lily abriu a porta, empurrando Alice para dentro. Ela quase fugiu, vendo quem estava esperando, mas Lily não permitiu.

- Vocês duas estão atrasadas - James disse, relanceando as garotas. Alice parecia prestes a pular em cima de Lily.

- Alice?

Alice dirigiu seu olhar para a voz hesitante.

- Frank - ela disse rudemente, censurando-o.

- Escutem, vocês dois; eu sei que estão furiosos, mas vocês são melhores amigos, e isso está me deixando louca, então, vocês não podem fazer as pazes?

Os dois se olharam em um silêncio tenso, até que Alice falou:

- Eu não deveria ter dito aquilo para você, eu estava errada, só estava furiosa.

- E eu não deveria ter agido daquele jeito e levado você a dizer isso. Eu não fui de muita ajuda.

Os dois não estavam sendo muito persuasivos. Foi Frank quem ergueu o olhar primeiro:

- Desculpe-me.

- Eu também. Queria pedir desculpas, eu só estava muito embaraçada e sendo muito teimosa - Alice adicionou, um sorriso se formando em seu rosto.

- Eu também - Frank disse, sorrindo de volta.

Lily deu um rápido passo para o lado, pois Alice tinha se movido repentinamente para frente, atravessando a sala em direção aos braços de Frank, abraçando-o forte.

- Eu senti falta da gente. Nunca vamos brigar de novo.

Frank pareceu ficar muito atordoado pela proximidade de Alice para formular uma resposta, até que ele finalmente respondeu:

- Nunca. Eu prometo.

Lily sorriu, por sobre a cabeça dos dois amigos, para James. Ela não teria sido capaz de fazer isso sem a ajuda dele.

Não teve tempo para agradecer-lhe. Alice e Frank a arrastaram para fora, ambos prontos para voltarem a ser o mesmo trio alegre de antes. Lily pôde apenas acenar enquanto era puxada.

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Lily foi acordada no dia seguinte pelo grito estridente de Alice:

- Olhe, Lily, outra carta! Ele está pedindo para se encontrar comigo. Esta noite, na torre de Astronomia. À meia-noite.

Lily sentou-se rapidamente. Meia-noite? Que tipo de cara queria se encontrar à meia-noite? Não parecia certo.

- O que eu deveria vestir? O que deveria dizer? Lily, me ajude!

Lily se levantou, pegando a carta. A caligrafia era ruim e, é claro, havia outro poema.

"Ela caminha em formosura, noite que anda

num céu sem nuvens e de estrelas palpitantes,

e o que há de bom em treva e resplendor

se encontra em seu olhar e em seu semblante"

Lord Byron, se Lily estava certa. E nem tinha o poema inteiro. Nem mesmo a primeira estrofe completa. Mas uma escolha apropriada.

- Eu não acho que você deva ir. E se esse cara for algum tipo de doido?

- Lily, você está começando a parecer o Frank.

Lily suspirou e seguiu Alice até o salão comunal, onde a viu correr para contar a Frank. Ele estava falando a mesma coisa que Lily. Alice não pareceu feliz.

Então, Lily teve uma idéia. Ela saiu do salão comunal, apressando-se para o salão principal, e viu James já sentado com seus amigos.

- Estou lhe dizendo, Slughorn e McGonagall.

- De maneira alguma. Isso é quase nojento. Onde você ouviu isso?

Lily sentou perto de James, olhando dele para Sirius. Ela não estava certa se queria saber isso.

- Hei, Lily, você ouviu o rumor sobre o Slughorn e...

- Sirius, isso é apenas um rumor que alguém começou.

- Você tem certeza? Eu consigo ver a tensão...

Lily o ignorou, voltando-se para James:

- Preciso de um favor.

- Qualquer coisa por você.

Lily olhou para ele, incrédula.

- Bem, isso foi fácil.

- Com que eu estou concordando, exatamente?

- O admirador secreto da Alice quer se encontrar com ela hoje, na torre de Astronomia, à meia-noite. Eu não confio nesse cara, então eu quero que você vá e cuide dela.

- Não seria um tanto óbvio? Quero dizer, Alice não iria muito longe.

- Ela iria, se você não fosse exatamente como um humano - Lily argumentou.

- Lily, você não acha que seria meio frustrante, sabendo em quê eu me torno?

Lily deixou sua cabeça bater na mesa.

- Droga, eu não havia pensado nisso.

- Você precisará de algo menor, mais discreto - James disse, olhando para Peter.

- Eu? Mas ela não sabe sobre nós, garotas não gostam de ratos.

Lily suspirou, e então ponderou.

- É verdade, mas Alice sempre gostou de cachorros...

- Eu acho que isso é direcionado a mim - Sirius falou.

- Quem mais?

- Eu gosto daquela garota, mais ou menos como uma irmãzinha irritante que eu nunca tive ou quis.

- Então você vai fazer isso?

- Por que não? Eu posso prevenir Frank sobre a competição.

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Alice andava despreocupada pelos corredores em direção ao local do encontro. Por alguma razão, Lily não a tinha incomodado sobre isso, quando ela sabia que a amiga realmente teria preferido que ela não fosse.

De repente, ouviu algo se aproximando atrás de si. Ela olhou para baixo para ver um rato perto de seu pé. Soltando um grito esganiçado, deu um chute na direção do animal. O rato apressou-se em subir em um cachorro. Essa situação a surpreendeu, considerando que cachorros não eram animais de estimação exatamente comuns em Hogwarts.

Ela o olhou por um segundo, então o mandou ir embora. Afinal, seu admirador não gostaria de um cachorro estranho no mesmo lugar que eles. Não que isso importasse. Ela estava indo mais por curiosidade.

Continuou andando para depois parar, vendo que o cachorro ainda a seguia.

- Olha, cachorrinho, você é fofo e tudo, e em outras circunstâncias eu o levaria escondido para meu quarto e imploraria a Lily para manter segredo, mas estou tendo um encontro, então você tem que cair fora.

Voltou a andar para logo parar.

- Sabe, você realmente está me aborrecendo. Consegue me ouvir? Senta. Fica.

Ela virou e então ouviu uma voz chamar seu nome. Alice girou e quase gritou.

- Sirius, o que você está fazendo aqui? - ela sibilou. Então ficou pálida. - Oh, por favor, não me diga que você é meu admirador secreto!

- Uh, não. E eu estou profundamente ofendido por essa reação.

- Desculpe - ela disse, não soando muito sincera, Sirius notou. - E aí, o que você está fazendo aqui?

- Não sentando e ficando.

Alice olhou para ele, confusa.

- Oh, então você é um...

- A-ham.

- Você sabe que tem um rato em seu ombro?

- Ah, este é Peter.

Alice cruzou seus braços.

- Lily mandou você.

- Sem comentários.

- Ela mandou - Alice falou, batendo o pé. - Oh, bem. Já que você está aqui, venha. Você realmente é uma gracinha como cachorro, sabia?

Depois de alguns metros, ela alcançou o lugar que supostamente deveria se encontrar com seu admirador.

- Olá? - ela chamou.

- Alice? - uma voz respondeu. Soava baixa, jovem.

- Sou eu. Onde está você?

- Por que há um cachorro com você? - a voz disse de volta.

- É meu cachorro... Fluffy - ela disse rapidamente. Ignorou o barulho que Sirius fez em resposta.

- Ele não morde, não é?

- Só às vezes - Alice falou. - Venha para onde eu possa vê-lo - pediu.

- Não gosto de cães.

- Se ele incomodar você, eu sempre posso mandá-lo para a carrocinha - Alice disse perigosamente.

- Certo. Estou indo. Mas você tem que prometer que não vai fugir.

- OK. Eu prometo - ela disse impaciente.

O dono da voz começou a andar, e Alice ficou boquiaberta. Era um menino, um menino novo. Novo, do tipo doze anos.

- Você é apenas uma criança! - ela disse atordoada. Atrás dela, Sirius estava fazendo um barulho que ela supôs ser o tipo de risada que viria de um cachorro.

- O que ele está fazendo? - o garoto perguntou hesitante.

- Nada. Ele só está com problemas respiratórios - ela disse rapidamente. - Qual a sua idade?

- Doze, mas vou fazer treze em três meses.

Alice enterrou o rosto em suas mãos. Ela não conseguia acreditar que isso estava acontecendo.

- Como nós nos encontramos?

- Você me mostrou o caminho para a sala de aula, um dia, no ano passado, quando eu estava perdido. Você disse que sempre que eu precisasse de ajuda era só pedir. E nós dançamos juntos na festa de Halloween, em Hogsmeade. Eu soube que estávamos destinados no momento em que encontrei você.

Alice se esforçou com o que fosse dizer. Ela não queria magoá-lo; ele era tão novo, e ela se lembrava de seu grande amor naquela idade. Mas ela não poderia permiti-lo pensar que houvesse esperança. Nunca houve.

- Olha, você parece ser um garoto legal e tudo. Mas é contra a lei, ficarmos juntos.

- Podemos manter em segredo.

Alice suspirou.

- Você é muito novo para mim. Mande-me uma coruja daqui cinco anos, veremos como acontece. Quero dizer, você não gostaria de uma garota de sua própria idade?

- Eu sabia que você pensaria que sou muito novo. Por isso escrevi aquelas cartas. Eu só queria falar com você cara a cara.

- Olha, isso é encantador, de verdade, e você será um grande namorado, admirador, qualquer coisa, para a garota certa. Mas essa garota não sou eu.

- Você tem certeza?

- Totalmente.

Ele aceitou isso e foi embora. Sirius e Peter voltaram à forma humana e a olharam, ambos segurando uma risada.

- Se algum de vocês disser qualquer coisa, eu os mato. Entenderam?

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Nos dias seguintes, Frank estava particularmente feliz devido ao que Alice dissera a ele, Lily tinha certeza. A própria Alice estava bem, sem mais preocupações. Vendo que ambos os seus amigos estavam agradavelmente felizes, e agradavelmente felizes um com o outro, ela foi procurar James.

Foi no salão principal que o encontrou, ao lado de Sirius, Remus e Peter.

- O que vocês estão fazendo?

- Amanhã é dia de Ação de Graças e no dia seguinte eles colocarão os viscos de Natal. Estamos procurando os melhores lugares em que eles ficarão, com isso, saberemos aonde ir - explicou James.

- E quem você planeja beijar? - ela perguntou.

- Você, é claro.

- Sabe, beijos por causa dos viscos não contam na aposta. Muito fáceis.

James olhou para seus amigos, que concordaram.

- Mas eu ainda posso te beijar embaixo dos viscos.

- Você pode tentar. Eu me lembro de uma vez, no quinto ano, quando você tentou me pegar em baixo de um visco; você precisou que Sirius tentasse me levar para baixo e eu o empurrei para que ele ficasse embaixo do visco com você...

- Eu me lembro disso... Foi um visco enfeitiçado, e ele não te deixava enquanto você não tivesse beijado a pessoa - James disse, parecendo irritado novamente só em se lembrar disso.

- Foi bem feito, tentando me pegar em baixo de um visco enfeitiçado. Da próxima vez que você tiver um plano engenhoso, não o diga onde Frank possa ouvir para me contar.

- Nós ficamos esperando por quatro horas para que aquele feitiço se desgastasse! - James exclamou. - Você sabe o quão difícil é ficar num único lugar por quatro horas?

- E eu realmente queria fazer xixi - Sirius falou.

Lily franziu o nariz com essa observação. Realmente era informação demais.

- Por que vocês simplesmente não se beijaram e saíram de lá?

Ambos olharam para ela como se Lily estivesse louca.

- Lily, nós não podemos nos beijar. Somos homens.

- Verdade, eu não tinha percebido - ela falou sarcasticamente, então adicionou: - Sabem, visco enfeitiçado não especifica onde você tem que beijar. Vocês nem sequer teriam que beijar na boca do outro. Eu sei, pois caí numa armadilha uma vez com um sujeito da Slytherin. Não de propósito. Ele era do sexto ano, eu, do primeiro.

- Você deveria ter nos contado. Havia um monte de gente nos observando, nos dizendo para beijar - James falou.

- Eu os odiava. Foi divertido. Além disso, não foi grande coisa, vocês são melhores amigos. Se eu caísse numa armadilha dessas com Alice, eu a beijaria para não ter de ficar parada por quatro horas.

- Verdade? - James, Sirius e Remus perguntaram juntos.

Lily desaprovou a expressão nos rostos deles.

- Não comecem a ter idéias. Pervertidos.

De repente, ela se lembrou do pedaço da conversa que tivera antes com Alice.

- Sirius, Remus, quem estava no corredor, no Halloween?

Os garotos se olharam.

- Você os ouviu? - Remus perguntou.

- Partes. Uma mulher conversando com seu irmão - ela falou gesticulando para Sirius.

- O que ela disse?

- Não me lembro de toda a conversa. Tentava fazê-lo entrar em alguma coisa - Lily respondeu. Havia sido também uma conversa sobre uma guerra próxima, mas ninguém sabia se ela aconteceria. Ela não gostou do foco da conversa. Parecia que a hora estava se aproximando quando eles conversaram.

- Qual foi a resposta dele?

Lily ficou um pouco chocada pela intensidade da pergunta dele. Ela tinha certeza que, depois da briga, os dois irmãos não se importavam tanto um com o outro.

- Ele disse que entraria quando fosse mais velho - ela disse suavemente, esperando pela reação de Sirius. Não houve nenhuma. Ele parecia não se importar. - De qualquer maneira, esse é um tópico deprimente, vamos mudar de nossas famílias alienadas para algo mais feliz - Lily disse alegremente, esperando melhorar os ânimos.

- Certo. Voltando ao rumor sobre o Slughorn e a McGonagall...

xxx-xxx

O dia de Ação de Graças foi um dia bom e Lily tinha muito que agradecer. Seus amigos eram amigos novamente, James e ela se aproximando de maneira perfeita e ela tinha certeza de que ele estava planejando algo romântico a fim de obter os últimos dois beijos.

Era apenas uma pena que as coisas não conseguiam durar.

James estava simplesmente convidando-a para ir a Hogsmeade (ele queria ter uma idéia do que comprar a ela para o Natal) e Lily estava a ponto de concordar (ela estava discutindo por simples hábito, e ele sabia disso), quando ele disse algo que a fez vacilar.

- Ah, vai, Lily, até mesmo nossos amigos acham que pertencemos um ao outro.

- Eles acham? E como você sabe disso?

- É o que Alice acha.

- O quê? Vocês sentaram por aí e deliberaram a meu respeito? - ela zombou.

James desviou seu olhar de Lily, lembrando-se que Alice dissera que Lily ficaria irritada se soubesse o que a amiga contara a ele.

- Não, foi só um palpite de sorte, você sabe.

Lily notou que ele não olhava para ela, não a encarava.

- Vocês conversaram, não foi?

- Apenas uma vez, eu estava querendo descobrir o que você realmente sentia por mim.

- O quê? Você perguntou a ela nas minhas costas? Minha melhor amiga. Isso não é justo, que decepção. Não acredito em você! - ela gritou.

- Como assim, decepção? Você fez a mesma coisa comigo! - ele se defendeu.

- Foi completamente diferente, você já havia me dito o que sentia, eu só estava confirmando.

- Então você pode perguntar a Sirius sobre mim, mas eu não posso perguntar a Alice sobre você?

- Isso! - ela gritou.

James se perguntou se Lily sabia o quão hipócrita ela soava.

- Como isso é justo?

- Porque eu sempre soube que você gostava de mim, e você apenas não pode ir perguntando a quem você vê se eu gosto de você.

- Por que você se importa que eu pergunte, quando você admitiu isso perfeitamente, de qualquer maneira? - ele falou, ficando calmo enquanto ela se irritava gradativamente.

- Porque talvez eu não esteja preparada para que você saiba - Lily esganiçou.

- Isso não é como se você estivesse negando - ele a lembrou.

Isso era verdade. Lily havia admitido que se sentia atraída por ele. Mas nunca dissera que gostava dele. Ou o amava. E não era justo que ele ouvisse isso primeiro em qualquer outro lugar. Mas e daí que ela não estava negando? Não importava. Ela estava propensa a mudar de idéia.

- Não neguei, mas isso não importa. Eu mudei de idéia, não gosto mais de você, afinal de contas.

James sentiu-se extremamente tentado em estrangulá-la. Era como se ela encontrasse o menor motivo para fugir. Ele sabia que ela estava com medo, mas ela ficar com raiva era sem sentido. Era inútil, e ela apenas queria um motivo para fugir logo.

Ele novamente se lembrou como em todas as vezes que ele dava um passo adiante, ela dava três para trás. Ele havia pensado que eles estavam prestes a acabar com isso.

- Continue dizendo isso para si mesma, Lily. Talvez um dia você acredite.

Lily ficou boquiaberta. Ela realmente não conseguia tolerá-lo em alguns momentos. E este era um deles.

- Você tem que ser tão presunçoso? Eu já nem sei o que vi em você.

Ela estava irritada, principalmente por ter iniciado uma briga em palavras, uma vez que ele não estava prestes a lhe dar a vantagem. Eles já estavam fartos de gritar em jogos que duravam a vida toda, como era o caso. A paciência de Lily não era algo que James quisesse provocar e parecia que ela já havia se provocado o bastante. E de fato, a pessoa com quem ela estava irritada era Alice por ter dito aquilo, e não com James por ter perguntado. A não ser que Lily estivesse zangada com ele por ele ter feito com que ela se zangasse com Alice, o que era muito confuso, mas era algo que ele conseguia ver Lily fazendo.

- Meu bom humor? Meu incrível charme? Minha espetacular habilidade em beijar?

O rosto de Lily ficou vermelho e ela ergueu as mãos em frustração.

- Você não consegue levar nada a sério? Ugh, você me deixa louca!

- Ainda assim, você gosta de mim.

Lily o encarou, irritada, então virou e foi embora. James tinha certeza que ela estava indo dar uma volta e, provavelmente, depois de alguns dias ofendida, as coisas ficariam bem. Ele a conhecia bem o bastante para saber disso. Apenas esperava que não demorasse muitos dias, pois ele tinha menos de um mês para ganhar a aposta.

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- Por que eu faço coisas estúpidas? Por quê? - Lily falou, jogando-se dramaticamente em sua cama. Alice a olhou com diversão.

- Eu estou tão agradecida por você não estar irritada comigo.

- Eu estava, mas superei isso. Eu estou irritada com o estúpido do James. E com minha própria estupidez.

- Por quê?

- Porque ele é um imenso idiota - ela disse. Alice quase riu da expressão no rosto dela.

- Quero dizer, por que você está brava consigo mesma?

- Eu tentei iniciar uma briga com o James. E não sei por quê. Eu vi a mim mesma sendo uma idiota e não tive controle sobre isso. O que há de errado comigo?

- Eu acho que o que há de errado é esta aposta estar quase terminada, e você quer que James vença. Mas você não quer querer que o James vença, então, você está sendo uma bundona.

Lily olhou para ela de sua cama.

- Não acredito que você me chamou de bundona.

- A verdade dói, às vezes.

- Obrigada pelas palavras sábias - Lily retorquiu sarcasticamente.

- De nada.

Lily rolou os olhos, enterrando o rosto no travesseiro.

- Eu acho que gosto de ver o quão longe eu consigo empurrá-lo. Isso é horrível?

- Sim, mas, se você está considerando ficar com ele, eu acho que é compreensível - respondeu Alice, sentando-se na beira da cama.

- Ele não ficaria zangado comigo. Ele não iria nem mesmo gritar. Ele estava tão calmo com tudo isso.

- Talvez ele também saiba que você apenas está sendo uma bundona - Alice sugeriu.

- Obrigada, Alice - Lily falou secamente.

- Você irá se desculpar?

- Como? Desculpe, James, eu perdi a razão temporariamente. Isso acontece às vezes, então, aprenda a lidar com isso.

Alice sorriu e deu um tapinha na cabeça de Lily.

- James não está zangado, ele te conhece bem bastante para esperar essas coisas de você. Ele te perdoará.

- Eu sei que ele vai, ele nunca ficou zangado. É muito embaraçoso, na verdade.

Alice deu um meio sorriso irônico.

- Bem, se você não se constrangesse de vez em quando, você não seria tão divertida.

No dia seguinte, Lily não falou com James. A principal razão foi porque ela não queria ver a expressão presunçosa no rosto dele quando lhe dissesse que não estava irritada. Então, ela esperou o longo dia para decidir falar com ele. Entretanto, ela não o encontrou. Ela supôs, então, que ele estivesse fora dos terrenos da escola.

No outro dia, ela tinha certeza de estar certa, uma vez que tinha ouvido falar sobre uma festa de Natal no salão comunal. Ela encontrou James, não mencionando a briga deles.

- Você tem alguma coisa a ver com essa festa que ouvi?

- Eu não planejei a festa. Só ajudei para que ela acontecesse.

Lily sorriu em resposta.

- Acho que o vejo lá, então.

- Isso significa que estamos conversando de novo? - ele perguntou.

- O que você acha? - Lily falou por cima do ombro.

Ele não lhe deu resposta. O sorriso no rosto dela dizia tudo.

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James não viu Lily durante o início da festa, apesar de saber que ela o procurava. Quando ele a viu, foi para vê-la com os amigos, dançando. Alice tinha arrastado Peter para fora da pista de dança, Lily tentava convencer Frank, então, desistindo, virou para Sirius e Remus que estavam fazendo-a ir para frente e para trás. Ela estava rindo, e então virou o rosto na direção dele e, após ver James, sorriu e acenou para ele.

James acenou de volta, diminuindo a distância entre eles, mas sendo parado por alguns garotos do time de quadribol.

Lily caminhou para um canto isolado, esperando que James se juntasse a ela. Ela estava esperando por ele, então, quando sentiu dois braços circundando sua cintura, ela fechou os olhos, permitindo-se ser girada e beijada. Sentiu alguma coisa errada. Por um momento, ela o sentiu um pouco menor, e o beijo era um pouco... não era tão bom quanto ela havia esperado. Ela se afastou, e ao mesmo tempo ouviu alguém gritar seu nome.

Ela girou na direção da voz e viu James olhando-a com horror, a expressão dela sendo a mesma da dele. Ela apressou-se em tentar explicar.

- Não, James, isso não é o que parece, eu pensei...-

Ela não chegou a dizer tudo o que queria, pois James deu um soco no rapaz que a estava beijando. Lily tinha certeza que James havia quebrado o nariz dele, julgando pelo sangue que jorrava.

- James! Olhe o que você fez! - ela gritou. Claro, ela queria socar o rapaz por beijá-la, mas quebrar o nariz dele? Esse tipo de coisa poderia expulsar James.

Lily percebeu o erro de suas palavras tão logo elas foram ditas. Isso apenas fez parecer que ela se importava com o rapaz.

Aparentemente, também foi essa a idéia que James teve enquanto caminhava para longe dela.

- James, espere! Deixe-me explicar!

- Explicar o quê? Por que você estava beijando outro cara?

- Não, quero dizer, não é o que você acha, eu pensei...-

- Pensou que eu não encontraria você?

Lily sentiu a raiva borbulhar dentro dela. Se ele ao menos ouvisse, veria que estava errado. Ela começava a pensar que o idiota era ele. Como ele poderia pensar que ela poderia fazer esse tipo de coisa?

- Não, não é isso. James, você tem que me ouvir - ela pediu.

- Ouvir você? Depois de você me trair? Como você pode explicar isso?

Lily sentiu que estava perdendo a calma. Realmente, se ele pensasse isso dela, o que ela poderia dizer? Ela sabia que não deveria fazer isso e lamentou o que dizia mesmo enquanto as palavras saíam, mas ela não conseguia impedi-las:

- Trair você? Eu não sou sua namorada! Eu posso beijar quantos garotos eu quiser, e você não pode fazer coisa alguma sobre isso!

Ela viu a dor no rosto dele, sabia que devia parar, que queria, mas gritou as palavras de qualquer maneira:

- Eu odeio você!

Isso pareceu ser a gota d'água para ele. James girou e foi embora. Lily o viu se afastando, sua raiva se esvaindo. O que ela fizera?

- James, espere, eu não quis dizer isso! - ela o chamou, vendo-o se afastar mais.

Isso não serviu para nada. James já estava saindo, e todos no salão comunal olhavam para ela. Ela e James haviam feito uma bela cena. Sirius, Remus e Peter seguiram James para fora do salão, olhando-a gravemente, e Alice e Frank já estavam atravessando o salão até ela.

Ambos pegaram-na pelos braços, levando Lily para o quarto de Frank. Uma vez dentro dele, ela desabou na cama do amigo, chorando muito. Nada nunca esteve tão errado.